O julgamento de um policial militar da Reserva Remunerada, candidato a vereador por Sobral, que ocorreria na Justiça Estadual na última quarta-feira (21), foi adiado. O PM é acusado pelo crime de revolta, por supostamente liderar o motim de militares em 2020, naquele Município, que resultou no disparo de tiros que feriram o senador Cid Ferreira Gomes (PSB, à época PDT).
O sargento da Reserva Remunerada da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Ailton Marcos Fontenele Vieira está na situação de "concorrendo" ao cargo de vereador por Sobral, segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o nome de Sargento Ailton (União Brasil). Ele já foi vereador pelo Município entre 2016-2020 e suplente de vereador, em 2020-2024.
Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, a Vara da Auditoria Militar do Ceará havia marcado uma audiência para ouvir quatro testemunhas, interrogar o réu, as partes apresentarem as alegações finais e realizar o julgamento, a partir de 10h30 da última quarta (21).
Entretanto, a audiência foi adiada. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) confirmou, por nota, que "a audiência do processo em que figura como réu Ailton Marcos Fontenele Vieira, agendada para a manhã desta quarta-feira (21/08), foi adiada devido ao não comparecimento de uma testemunha de defesa e à não localização de outras três testemunhas também de defesa. O juiz concedeu um prazo de 15 dias para que a defesa apresente os novos endereços das testemunhas não localizadas". Outra data será marcada pelo Poder Judiciário.
PM pediu adiamento devido à sua candidatura em Sobral
A defesa de Ailton Marcos chegou a pedir o adiamento da audiência, no dia 10 de agosto último, devido à sua candidatura a vereador por Sobral. "O adiamento do interrogatório designado para o dia 21 de agosto de 2024, para data posterior ao término do período eleitoral, garante ao acusado o pleno exercício de seus direitos políticos e a ampla defesa no presente processo", alegou a defesa, na ocasião.
A Justiça Estadual tinha indeferido o pedido da defesa, no dia 13. "Verifico ainda que não foi acostado aos autos qualquer documentocom justificativa razoável para que o ato instrutório seja remarcado. Ademais disso, informo que a escolha de data para a realização de audiência é realizada de acordo com a disponibilidade da pauta deste juízo", explicou o juiz.
A defesa do Sargento Ailton foi procurada, mas informou à reportagem que se manifestará somente depois da instrução do processo.
policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por participação no motim de 2020, no Município de Sobral. A Auditoria Militar recebeu a denúncia contra apenas 6 PMs, inclusive o sargento Ailton Vieira - que virou réu pelo crime militar de revolta.
Liderança do motim em Sobral
O sargento Ailton Marcos Fontenele Vieira foi apontado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) e pelo Ministério Público como líder do motim em Sobral.
Segundo a decisão judicial de receber a denúncia, o quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), em Sobral, foi invadido por policiais militares encapuzados e à paisana, no dia 18 de fevereiro de 2020. Esposas e companheiras dos oficiais, também mascaradas, teriam sido encarregadas de secar os pneus das viaturas.
No dia seguinte, o senador Cid Gomes se dirigiu até o quartel para tentar negociar o fim do motim, mas não conseguiu entrar no local. Houve uma "discussão calorosa", segundo o juiz, entre o senador e o vereador Ailton.
"O fato culminou com o senador sendo alvejado por disparos de arma de fogo vindos dos revoltosos, quando conduzindo uma retroescavadeira, o político sob ameaças, determinava que a paralisação acabasse naquele município", descreve a decisão judicial.