Áudios que teriam sido compartilhados entre membros de facções, divulgados neste domingo (13) pelo programa Fantástico, indicam que presidiários comandavam os ataques ocorridos no Ceará desde a madrugada do dia 2 de janeiro.
Entre os áudios dos detentos estão ameaças de ataques, indicações de alvos, até procedimentos de como os criminosos deveriam agir. Como demonstra uma mensagem enviada por um detento: "Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?"
O conteúdo das mensagens foi descoberto pela polícia após a apreensão de 407 aparelhos celulares em presídios do Estado no dia 6 de janeiro.
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A motivação para os ataques no Estado seria uma reação dos presos à nomeação e às medidas tomadas pelo secretário da Administração Penintenciária, Luís Mauro Albuquerque, que foi empossado em 1º de janeiro. “Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios, vocês vão ver, vai piorar é pra vocês”, ameça um detento em uma das mensagens de voz, também divulgada pelo programa da TV Globo.
Em entrevista durante a posse, Albuquerque afirmou não reconhecer a existências das facções criminosas. “Eu não reconheço facção. O Estado não deve reconhecer facção”. Além dessa afirmação, o secretário prometeu medidas para evitar a entrada de aparelhos celulares nos presídios.
Luís Mauro Albuquerque já é conhecido por medidas duras. No presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, por exemplo, ele acabou com a separação de presos e implantou rotinas de gestão e disciplina. Modelo diferente do que era aplicado nas penintenciárias do Ceará que, até então, separava os presos de acordo com a facção crimonosa a que eles afirmam pertencer.
Até o 12º dia de ataques foram registrados mais de 200 ataques em 44 municípios do Ceará. Entre os mais recentes estão explosões em pontes nos municípios de Chorozinho e Tabuleiro do Norte e a derrubada de uma torre de transmissão de energia em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza.
O número de pessoas presas ou apreendidas suspeitas de participarem dos ataques criminosos chega a 353, de acordo com o Governo do Estado.
Pivô da crise
Luís Mauro Albuquerque é natural do Distrito Federal e ganhou notoriedade nacional com a coordenação de uma força-tarefa, em 2017, para conter uma rebelião de presos no presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. A rebelião que teve duração de 13 dias e resultou na morte de 26 detentos e só foi controlada com a intervenção da polícia.
A atuação de Albuquerque na ocasião chamou a atenção do governo do Rio Grande do Norte e ele foi convidado para ser Secretário de Justiça e Cidadania. Agora, ele aceitou o convite do Governador Camilo Santana e é o secretário da recém-criada Secretaria de Administração Penitenciária.