As precipitações da estação chuvosa de 2019 foram as melhores dos últimos sete anos, e a terceira melhor já registrada no Estado nos últimos 20 anos, conforme balanço da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). A média histórica da quadra chuvosa é 600,7 milímetros. De acordo com a Funceme, choveu 676,3 milímetros entre fevereiro e maio, 12,6% acima do esperado.
Apesar das boas precipitações, o abastecimento de água para a Grande Fortaleza preocupa. Segundo o secretário da SRH, Francisco Teixeira, a reserva atual do sistema Jaguaribe-Região Metropolitana, que abastece Fortaleza, é de 11,9%. Em outubro de 2015, quando foi divulgado o Ato Declaratório reconhecendo o cenário de escassez hídrica no Estado, esse volume era de 19,2%.
"Apesar desse aumento não choveu bem em todas as regiões do Ceará. Isso não garante o abastecimento de água inteiro nem para o próximo ano todo. Precisamos trabalhar bem essa reserva que nós temos", afirmou.
Sobre o quadro chuvoso melhor dos últimos sete anos, a Funceme afirma que os meses de fevereiro e março ajudaram para que os números fossem mais positivos. Durante os meses de fevereiro a maio, o Ceará, em 2019, apresentou números melhores do que em:
- 2018 (0,0%),
- 2017 (-8,2%),
- 2016 (-45,5%),
- 2015 (-30,3%),
- 2014 (-23,4%),
- 2013 (-39,3%)
- 2012 (49,6%).
“O período de fevereiro a maio de 2019 foi ligeiramente superior ao mesmo período de 2011 (9,7%), que foi o último semelhante ao atual. Nos últimos 10 anos, o período de fevereiro a maio mais chuvoso foi o do corrente ano. Um longo período seco, de 5 anos consecutivos, ocorreu entre 2012 e 2016.”, destaca o meteorologista da Funceme Raul Fritz.
Cidades com nível de criticidade de abastecimento
Ainda segundo Francisco Teixeira, onze cidades cearenses no nível de criticidade alta na questão de abastecimento. São eles:
- Monsenhor Tabosa,
- Quixeramobim,
- Caririaçu,
- Mombaça,
- Parambu,
- Salitre,
- Piquet Carneiro,
- Tamboril,
- Irauçuba,
- Pereiro e
- Pacoti.
Regiões mais beneficiadas com as precipitações:
- Litoral: 1.016,0 milímetros
- Coreaú: 1.242,2 milímetros
- Metropolitana: 914,6 milímetros
Menores médias da quadra chuvosa:
- Médio Jaguaribe: 520,6 milímetros
- Alto Jaguaribe: 434,5 milímetros
- Banabuiú: 467,2 milímetros
Fevereiro o mês mais chuvoso
Em relação ao desvio referente à média histórica por mês, fevereiro foi o mais chuvoso, com 45,3% acima da normal climatológica, que é de 118,6 mm, seguido de março que ficou com desvio positivo de 15,3%. O mês de abril apresentou um pequeno desvio positivo de 0,9% e, em maio, as chuvas ficaram abaixo da média, com -12,1%.
Março e abril são os meses mais chuvosos, segundo a climatologia, com média de 203,4 mm e 188,0 mm, respectivamente; enquanto em maio a média mensal é de 90,6 mm. “Esta tendência de redução das chuvas, relativa à climatologia mensal, como mostrado pelos desvios percentuais mensais ao longo da quadra chuvosa, foi indicada no prognóstico emitido em janeiro de 2019”, afirma o meteorologista Raul Fritz.
Chuvas nas macrorregiões
A análise da quadra chuvosa mostra que a região do Sertão Central e Inhamuns foi a que apresentou o maior desvio percentual negativo (-6,3%), seguida do Cariri, com desvio percentual de -4,8%, da Jaguaribana (1,5%), do Maciço de Baturité (14%), da Ibiapaba (25,6%), do Litoral de Pecém (40,9%), do Litoral de Fortaleza (44,2%) e do Litoral Norte (48,0%).
As macrorregiões Ibiapaba, Litoral de Pecém, Litoral de Fortaleza e Litoral Norte ficaram com o acumulado acima de suas marcações normais, enquanto as macrorregiões Maciço de Baturité, Jaguaribana, Cariri e Sertão Central e Inhamuns apresentaram chuvas em torno da média.
Boas chuvas nos três primeiros meses do ano
O quadro pluviométrico observado ultrapassou, ligeiramente, o primeiro prognóstico, divulgado em janeiro de 2019, que apontou maior probabilidade de que a precipitação média estadual, acumulada no período de fevereiro a abril, estaria na categoria em torno da média.
Esse trimestre apresentou um desvio positivo de 17%, com o acumulado médio de precipitação (596,6 mm) situado dentro da categoria acima da média, que corresponde a valores acima de 587,1 mm.
“O primeiro prognóstico indicou tendência de categoria mais provável abaixo da média histórica no centro-sul do estado e acima da média histórica na região mais próxima do litoral, o que foi aproximadamente verificado pois o Sertão Central e Inhamuns, o Cariri e a região Jaguaribana ficaram em torno da média histórica, sendo as duas primeiras regiões mencionadas aquelas que apresentaram pequenos desvios percentuais negativos. Já o segundo, divulgado em fevereiro, para os meses de março a maio, também indicou, como mais provável a categoria em torno da média para o trimestre, sendo a categoria abaixo da média a segunda mais provável”, reforça o meteorologista da Funceme.
As condições de temperatura da superfície do Oceano Atlântico tropical favoreceram a atuação mais regular da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema indutor de chuvas no setor norte do Nordeste. Em maio, a ZCIT teve maior influência apenas sobre o centro-norte do estado durante o início até meados do mês.
No oceano Atlântico tropical observou-se, neste ano, temperaturas da superfície do mar mais aquecidas do que a média nas proximidades da região Nordeste e em torno da neutralidade acima da Linha do Equador, favorecendo a atuação da ZCIT. O fenômeno El Niño se manteve com intensidade fraca durante o período de fevereiro a maio, provavelmente interferindo negativamente na incidência de chuvas sobre o estado entre abril e maio.