Pesquisa desenvolve bioplástico que amplia conservação de alimentos e reduz geração de lixo

Com objetivo de mitigar os impactos ambientais causados pelo amplo descarte incorreto de resíduos plásticos na natureza, um estudante da Universidade Federal do Cariri (UFCA) desenvolveu um projeto para produção de bioplásticos para embalagens sustentáveis a partir de resíduos vegetais.

Aluno de Engenharia Civil, Fagner Oliveira, de 20 anos, descobriu que a casca da cebola pode aumentar a conservação de alimentos - por possuir características antioxidante e anti-inflamatória - e produzir plásticos biodegradáveis, sendo uma alternativa para substituição de sacolas plásticas convencionais.

Ao ingressar na UFCA, há três anos, começou a pesquisar a aplicabilidade das cascas da cebola e do alho como componentes de proteção dos alimentos. A primeira deu melhor resultado. Com ajuda do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT/UFCA), e sob orientação da professora e pesquisadora Allana Lima, doutora em Química Orgânica, resolveu aplicar, neste ano, o uso da casca de cebola tratada no bioplástico. "Ela (a tutora) já é especialista em polímeros, então tivemos a ideia conjunta", explica o estudante.

A casca da cebola possui quercetina, um composto que normalmente se acumula em plantas com peles e cascas, funcionando como uma "armadura" contra agressões ambientais. As propriedades naturais favoráveis dela trazem benefícios socioeconômicos, como o aumento da conservação, que, protegendo os alimentos por embalagens ecológicas, resulta na diminuição da produção de lixo.

Para comprovar a eficácia da pesquisa, foram realizados testes com alguns frutos, como tomate e maçã, onde se observou o poder de conservação. Os alimentos foram envolvidos com uma proteção do composto formado a partir da casca da cebola. "O mais impressionante foi o experimento da maçã. Pegamos duas maçãs com aspecto semelhante, uma sem proteção e outra com proteção por 15 dias. A gente observou que a sem proteção já estava com a casca escura, se decompondo, enquanto a outra permanecia intacta", descreve a pesquisadora Allana.

O bioplástico produzido pelo projeto é feito a partir de fontes renováveis e são biodegradáveis, como o vinagre, glicerina, água e amido de milho, mas este último está sendo testado a partir da extração da casca de batata. Todo o trabalho leva em torno de duas horas, mas apenas para secar varia em torno de dois a três dias. "Depende da espessura", explica a pesquisadora.

Alternativa

Allana acredita que o resultado deste projeto poderá ser aplicado em fabricações caseiras, dando mecanismos a agricultores e feirantes, por exemplo, para comercializarem frutas, verduras e legumes com maior conservação. "Isso ainda está sendo aprimorado", pondera. "Ele é prático, mas tem que saber a quantidade certa e alguns materiais não são fáceis. Tem trabalho de medir, padronização. Isso pode ser orientado no futuro", completa Fagner.

Redução de resíduos

Outra possibilidade visualizada na pesquisa é a produção de sacolas. Embora embrionária, a pesquisa mostra bons horizontes. "Alguns materiais ainda deixam o bioplástico um pouco frágil, mas têm meios para fortificar. É um dos nossos pensamentos futuros (fabricar sacolas biodegradáveis). Muitos materiais que utilizam fibra não são fáceis de aplicar. É um processo", reforça Allana. Outra iniciativa para atingir o objetivo é a utilização de glicerina vegetal.

"Já têm testes para ver a eficácia, mas ainda não está consolidado", completa a pesquisadora. Ainda em 2020, o bioplástico será enviado para universidades da Paraíba e Rio de Janeiro para análise, onde serão medidas a resistência e tensão - limite elástico.