Musicalidade no ritmo brasileiro ganhará a China

China abre suas muralhas para a música das montanhas, onde o Ceará estará sendo representado

Quixadá. Atravessar as muralhas da China, milenar nação asiática, a mais populosa do mundo, até pouco tempo atrás era praticamente impossível. Mas nas últimas décadas, o "país vermelho", uma das maiores potencias econômicas do planeta, resolveu abrir suas portas para o mundo capitalista. Além de se render ao consumismo ocidental e aproveitar sua potencialidade comercial, o exótico povo do maior país da Ásia Oriental também abre seus braços para outras riquezas do lado de cá. Na segunda quinzena de agosto, cinco músicos cearenses representarão o Brasil no Festival das Montanhas Famosas. Levarão a nossa cultura em forma de música.

O grupo é formado por três representantes de Quixadá e outros dois de Guaramiranga. Paulo Queiroz, Helder Menezes e Rogério Jales, também professor e maestro, levarão o talento da "Terra dos Monólitos". A cantora e instrumentista Fladiana Ruiz e o violonista e guitarrista Marcelino Ferreira seguem do Maciço de Baturité. Juntos, terão a responsabilidade de apresentar a musicalidade brasileira na Praça da Amizade. O palco do festival internacional fica situado no Monte Lu ou Lushan, situado ao sul da cidade de Jiujiang, em Jiangxi, na República Popular da China, perto do belo lago Poyang.

Antes de partirem para a China o quinteto deve ensaiar alguns números. Na proposta, a abertura com Garota de Ipanema, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Alguns hinos nordestinos, como Asa Branca, imortalizada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, também estão nos planos do espetáculo, por esse motivo não poderá faltar um acordeom na bagagem. Não sabem se existe este tipo de instrumento musical por lá. "A ideia é puxar todos os ritmos da música brasileira", acrescenta Rogério Jales. "Todavia, o roteiro musical ainda vai ser discutido com os artistas de Guaramiranga", explicou.

Convite

O convite apanhou o trio de Quixadá de surpresa. Nunca foram tão longe. Além do mais, "invadir um País temido por seu rigoroso regime militar, onde até bem pouco tempo tudo era proibido, ainda continua sendo assustador", comenta Helder Meneses. O parceiro instrumental, tratado carinhosamente por Paulinho do Sax, está ansioso pela aventura. Nunca tirou os pés do chão, a não ser para se deitar numa rede. Mais experiente, o regente Rogério Jales, brinca. "Levar rapadura a gente pode, mas farinha é bom tomar cuidado. Eles podem pensar que é outra coisa". Por outro lado, "ter a oportunidade de levar para o outro lado do mundo a riqueza cultural brasileira será uma experiência memorável", comemoram.

A dupla de Guaramiranga não pensa diferente. Apesar de já ter se apresentado em outro País, na Argentina, Fladiana Ruiz aguarda ansiosa pelo momento de subir ao palco do festival internacional. Também será a oportunidade para se unir a outros talentos do Ceará, anônimos para a maioria, mas que assim como ela carregam na veia o dom maravilhoso do canto. Ela também está curiosa para sentir a reação dos chineses. Conhece um pouco da cultura desse exótico povo.

Hospitaleiros

O mais experiente membro da comitiva nacional, Getúlio Santos, coordenador de Guaramiranga, diz não haver nada a temer. Ele já esteve quatro vezes na China. Pousou no Tibete. Na opinião do experiente viajante, os brasileiros vão se sentir em casa, apesar de estranharem um pouco os costumes dos asiáticos. Embora muito hospitaleiros, gostam de preservar seus costumes, quer seja na forma de morar, orar e até mesmo se alimentar. Ele cita como exemplo o hábito de beber dois copos de água pela manhã cedo, ainda em jejum. Embora aparentemente frágeis os chineses vivem muitos anos. A disciplina alimentar ajuda o organismo no combate às doenças. Aprendeu com eles.

Parceria

O intercâmbio cultural surge graças à parceria formada com o Governo do Estado, através da Secretaria das Cidades e das prefeituras de Quixadá e Guaramiranga. Em outubro do ano passado, as formações montanhosas dos dois Municípios, juntamente com o Parque Nacional de Ubajara e a Chapada do Araripe, no Cariri, foram inspecionadas por uma equipe internacional da Associação Internacional de Montanhas Famosas (WFMA - World Famous Mountains Association). Hoje, os quatro monumentos naturais do Ceará e mais um do Rio Grande do Sul representam o Brasil na WFMA. A sede da WFMA funciona no Monte Lu, e lá, construída a Praça Jardim da Amizade.

FIQUE POR DENTO
Mais populoso

A China é o maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes. Representa, aproximadamente, um sétimo da população da Terra. É uma república socialista governada pelo Partido Comunista da China sob um sistema de partido único. Tem jurisdição sobre 22 províncias, cinco regiões autônomas, quatro Municípios e duas regiões administrativas especiais com grande autonomia (Hong Kong e Macau). A capital China é Pequim. Com aproximadamente 9,6 milhões de quilômetros quadrados, segundo maior país do mundo em área terrestre. A antiga civilização chinesa floresceu na bacia fértil do Rio Amarelo.

MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria das Cidades do Ceará - Av. General Afonso Albuquerque Lima - Edifício Seplag
Telefone: (85) 3101.4465

VIRTUOSES
Ceará apresenta variedade e diversidade de talentos

Dos autodidatas àqueles que trilham o estudo tenaz, o Estado estará representado pela variedade dos artistas

Quixadá. Quando a Associação Internacional de Montanhas Famosas convidou os Municípios de Quixadá e Guaramiranga para participarem do festival internacional fez apenas uma exigência: os representantes artísticos deveriam ter habilidade com mais de um instrumento musical, explicou a chefe de gabinete da Prefeitura de Quixadá, Sandra Venâncio.

Seria uma tarefa difícil num curto espaço de tempo não fosse a vantagem do Município possuir uma escola de música. Então porque não convidar os próprios professores.

Para Paulo César Ferreira de Queiroz, músico instrumentista e vocalista, essa é uma oportunidade de mostrar seu valor musical. Ele utiliza o nome artístico de "Paulinho do Sax". Filho do músico e ex-contrabaixista da Banda Municipal de Quixadá, José Ferreira de Queiroz, traz do berço o gosto pela música, que estuda desde 1985.

Paulo César lembra que teve como maestro e professor o saudoso mestre José Ferreira Barros, o Zé Pretinho. Ele iniciou sua carreira como instrumentista aos 12 anos tocando requinta, instrumento de sopro tipo clarinete. Ingressou na Banda Municipal como funcionário público, aos 14 anos. Teve participação especial em uma das maiores bandas do Nordeste na época, a Black Banda, estreando como saxofonista em 1991. Nesta mesma época começou a estudar por conta própria violão e despertou seu interesse por instrumentos de harmonia.

Aos 20 anos, Paulino do Sax passou a dar aulas a domicílio para somar a sua renda. Desta feita, desenvolveu habilidades com diversos instrumentos de melodia, harmonia e ritmo, além da parte teórica musical. Hoje, atua como instrutor de violino na Fundação Cultural Raquel de Queiroz. Ele também trabalha com produção musical, arranjos, composição, artesanato e reformando violões e fabricando alguns instrumentos de percussão.

Outra presença é o artista Helder de Menezes. Ele iniciou sua carreira como músico em setembro de 1999. Tocou na noite durante oito anos. Seis anos depois resolveu aperfeiçoar suas habilidades e passou a estudar na Fundação Cultural de Quixadá. Dedicou-se ao piano, teclado e violão. No ano seguinte, em 2006, começou a atuar como instrutor de violão e flauta no Projeto AABB Comunidade, em sua terra natal, Quixadá. No ano seguinte, passou a trabalhar com crianças e adolescentes da comunidade do Campo Novo, como instrutor de flauta doce.

ALEX PIMENTEL
Colaborador