Faleceu, na manhã deste sábado (15), em Juazeiro do Norte, o professor e escritor Raimundo Rodrigues de Araújo, aos 84 anos, vítima de câncer de próstata. Natural de Várzea Alegre, ele era primo da beata Maria de Araújo, protagonista do chamado “Milagre da Hóstia”, fenômeno registrado pela primeira vez em 1889, que impulsionou as primeiras romarias ao Município.
A morte foi confirmada às 10h deste sábado, na sua residência, na Rua São José, no Centro de Juazeiro do Norte. Por causa do falecimento do escritor, a Prefeitura Municipal decretou luto oficial de três dias e hasteamento das bandeiras a meio mastro. Ele deixa a esposa e três filhos.
Autor de 13 livros, dentre os quais “O Centenário de Nascimento do Padre Azarias Sobreira”, “Juazeiro Anedótico”, “Padre Cícero do Juazeiro e Juazeiro do Padre Cícero”, “Mulheres de Juazeiro e Suco de Jiló”, “Resgatar é Preciso”, Raimundo Araújo também foi revisor Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, professor do Senai e membro do Instituto Cultura do Vale Caririense (ICVC).
Luta por justiça
O escritor também foi um dos principais defensores da memória da prima: “Depois do Padre Cícero, Maria de Araújo é a figura mais importante de Juazeiro do Norte”, afirmou em entrevista ao Diário do Nordeste, ano passado.
Em 1889, após comunhão celebrada pelo Padre Cícero, a hóstia teria se transformado em sangue na boca da beata Maria de Araújo. Isso se repetiria inúmeras vezes, mesmo com outros sacerdotes. Após o suposto milagre, tratado como “embuste” pela Igreja, ela foi condenada pelo Vaticano a viver reclusa em 1894 até a data de sua morte, em 17 de janeiro de 1917.
Como revisor de três jornais do Nordeste, Raimundo Araújo ouvia em silêncio as acusações que eram feitas contra a prima nas redações. “Ela era negra, analfabeta e pobre. Estes predicados contribuíram para um julgamento desfavorável a sua personalidade”, disse em entrevista ao repórter Antônio Vicelmo, em 2009, acrescentando que, apesar das perseguições e dos preconceitos, não guarda nenhum ressentimento. “Meu sentimento é de saudade e muito respeito”.
Araújo tinha esperança de que um dia fosse feita justiça com a prima, que considerava vítima de uma época marcada por polêmica. Ainda que com possibilidades remotas, acreditava em sua beatificação. “Ela foi esquecida durante muito tempo. Agora, já temos cinco livros sobre ela, que está se reabilitando paulatinamente”, completou Raimundo.