A cassação de mandatos do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), e do vice, Giovanni Sampaio (Podemos), por abuso de poder econômico nas eleições municipais do ano passado pode impor mais obstáculos para atividade econômica da cidade - a maior do interior cearense e uma das que mais crescem no Nordeste.
De acordo com representantes do setor produtivo, a instabilidade na administração do Município pode levar a atrasos ou paralisações de serviços, como licenças e alvarás, impactando a cadeia produtiva da região em um momento já delicado por conta da crise desencadeada pela pandemia.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e empresário da construção civil, André Montenegro, aponta que o impacto causado pela situação é "grande".
"Quando falta regulamentação, quando falta decisão para, por exemplo, emitir uma licença para que a construção civil possa avançar ou ainda alvará de funcionamento, há toda uma cadeia que é impactada", aponta.
Instabilidade política é ruim em qualquer que seja o cenário.
Na sexta-feira, após a decisão do juiz eleitoral Giacumuzaccara Leite Campos, da 28º Zona Eleitoral de Juazeiro do Norte, a Prefeitura informou que prefeito e vice ainda não haviam sido notificados da decisão e que os envolvidos só se pronunciariam após isso acontecer.
Para Montenegro, independentemente da decisão final, visto que a cassação cabe recurso, pode ser ainda mais um "fator agravante para postergação dos efeitos" sobre a economia local.
"A decisão que poderia ser tomada hoje só vai ser tomada após o fim de todas as instâncias. Isso significa que diversos setores podem ficar inertes, a espera de liberações, licenças, alvarás e isso impacta toda uma cadeia", avaliou Montenegro.
Na concepção do vice-presidente da Fiec, "quanto mais rápido for resolvida essa instabilidade política, melhor para todos".
A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Juazeiro do Norte, Zenilda de Sena Bezerra Matos, endossou a avaliação de Montenegro e se mostrou "preocupada" com a possibilidade de o Município sofrer impactos econômicos por conta do ambiente político.
"Quando uma cidade fica sem gestor é como uma locomotiva sem condutor, o rumo é incerto e há muitas dúvidas sobre o destino final".
Impactos podem ser agravados
Montenegro reforça ainda que a "instabilidade política" acontece em um período em que todo o País já enfrenta graves consequências econômicas causadas pela pandemia do novo coronavírus. Para ele, a comunhão desses dois fatores pode ser "muito grave" para a região.
"Já estamos com imensa dificuldade de retomar o crescimento econômico. Há dificuldade de estabelecer um equilibro para que os setores avancem, então enfrentar ainda mais um fator que dificulte o progresso é temeroso", conclui.
Zenilda de Sena tem o mesmo entendimento. A representante considera que para que o setor varejista retome o crescimento "é preciso de um olhar atento da gestão municipal".
Ela cita o "(não andamento do) Refis e a paralisação de obras importantes" para a região como pontos-chaves que representam desaquecimento da economia. "Esperamos que essa situação seja resolvida o mais breve possível", conclui.
Entenda o caso
Na sexta (30), Glêdson Bezerra e Giovanni Sampaio foram cassados por abuso de poder. Além deles, Gilmar Bender também é acusado na ação de impugnação de mandato eletivo. Os três ficam inelegíveis por oito anos.
O juiz Giacumuzaccara Leite Campos decidiu que os envolvidos praticaram compra indevida de combustível, com despesas não lançadas em prestação de contas; uso indevido de helicóptero durante carreata; e derrame de santinhos por helicóptero.
Os envolvidos afirmaram ainda que "não houve demonstração de abuso do poder econômico" e que o uso do helicóptero ocorreu por ato espontâneo de Gilmar Bender e "não trouxe efetivo desequilíbrio ao pleito eleitoral". A decisão cabe recurso.