Se o primeiro semestre deste ano foi marcado, em quase todas as regiões do Estado, pela alta incidência de chuvas, o segundo período de 2019 tem se notabilizado pelo robusto número de incêndios. Os focos se multiplicam a cada dia. Em Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, somente neste mês, são registrados, em média, "de 5 a 6 incêndios por dia", conforme o tenente-coronel Nijair Araújo, comandante do Corpo de Bombeiros da cidade.
A explicação, ainda segundo Nijair, "é uma soma de fatores". Ele detalha que, com o fim da quadra chuvosa, a vegetação nativa rapidamente fica seca, há baixa umidade do ar e o calor se intensifica. "Quando soma-se tudo isso à ação do homem, o resultado é devastador", avalia, ao considerar que na maioria dos casos, os incêndios têm origem antrópica.
Além de devastar a mata nativa e colocar em risco a fauna e a população que habita próximo às áreas queimadas, os incêndios demandam uma alta quantidade de água para serem cessados. Água essa, que no Semiárido nordestino, torna-se cada vez mais preciosa ao longo do segundo semestre, quando as chuvas se apresentam com rara frequência. O comandante do Corpo de Bombeiros detalha que, para combater cada incêndios, são necessários em torno de oito mil litros. Todo esse volume hídrico advém do Açude Trussu, reservatório responsável por abastecer mais de 156 mil habitantes de Iguatu e Acopiara, mas que agoniza com apenas 2,55% de sua capacidade total. Conforme especialistas, o atual volume do reservatório só possui capacidade para atender a demanda até o próximo mês.
"Quando o açude secar, de onde virá a água para apagar tantos incêndios", questiona preocupado o ambientalista Rodrigo Justos Oliveira.
Alerta
Diante do devastador incêndio que consome dia após dia a faixa da Mata Atlântica, ligou-se o alerta para as regiões cearenses que podem vivenciar o mesmo cenário que assusta o mundo há quase um semana. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) destacou que 20 municípios estão com alto risco de incêndios florestais. O quadro mais grave é no Sertão dos Inhamuns, seguido do Médio Jaguaribe e Sertão Central - onde está situado Iguatu. Também há áreas nessa situação no extremo do Cariri e região Norte do Estado. Somadas, as regiões apontadas sob esse perigo representam 10% de todo o território cearense.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o período entre setembro e outubro registra os picos mais elevados de focos de queimadas no Estado. Em 2019, já foram registrados 260 no Ceará - o número não inclui os incêndios em vegetações registrados, por exemplo, em Iguatu.
Em igual período dos últimos anos, houve sensível redução. De janeiro a agosto de 2015, a Funceme registrou 398 focos. Em igual período do ano seguinte, foram 563 - o maior número da série. Nos primeiros oito meses de 2017, foram 233 e, em igual período do ano passado, 202.