'Há necessidade de transferência de água do Castanhão para a RMF', diz secretário-executivo da SRH

As reservas hídricas do Ceará não tiveram recarga significativa na quadra chuvosa de 2021

As reservas hídricas no Ceará estão aquém do esperado no fim deste mês de março, que assinala a metade da quadra chuvosa, de fevereiro a maio. A situação levou gestores do Estado a considerarem a transferência de água do açude Castanhão para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), cujos reservatórios estão com 47,03% de sua capacidade.

Na tarde da próxima terça-feira (30) haverá uma reunião do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos do Ceará (Conerh) para decidir sobre a autorização da transposição das águas do Castanhão que, por sua vez, passou a receber recentemente aportes do Rio São Francisco.   

“Mediante esse quadro, há necessidade de transferência de água do Castanhão para a região Metropolitana”, pontuou o secretário-executivo da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Aderilo Alcântara.

O acumulado dos açudes da bacia Metropolitana é suficiente para uma demanda de apenas mais de cinco meses. Em comparação com igual período de 2020, a bacia acumulava 52,91%. O Gavião está com 93,0%; o Riachão com 40,97% e o Pacoti com 36,14%.

Poucas chuvas

Os açudes estratégicos receberam reduzida recarga neste ano e o volume médio atual (25,5%) acumulado nas 12 bacias hidrográficas é praticamente o mesmo índice de 1º de fevereiro (24,2%). Em comparação com o mesmo período de 2020, o índice médio dos reservatórios neste mês é superior em 7%.

As regiões mais críticas para o abastecimento de água dos centros urbanos são a Metropolitana, Sertão Central/Banabuiú e Jaguaribana. A avaliação foi feita nesta sexta-feira (26) em reunião remota do Comitê de Contingência contra a Seca.

Os municípios classificados em vermelho são Itatira, Jaguaruana, Russas, Monsenhor Tabosa, Salitre e Pedra Branca, que depende de poços, que apresentam água reduzida e salobra. Em situação amarela, está Quixeré.

A situação mais crítica é a do açude Banabuiú, que hoje está com 8,27% do seu volume total e, em 1º de janeiro deste ano estava com volume de 12,1%.

“Veja que dois meses de quadra chuvosa não trouxeram o nível do açude ao que se observava no início do ano”, comparou Aderilo Alcântara. “A tendência para os próximos dois meses é de redução das chuvas”.

Na Bacia do Banabuiú o quadro é desfavorável para o abastecimento das cidades de Quixadá e Quixeramobim porque outros reservatórios estão com reduzido volume no Sertão Central:

  • Pedras Brancas, em Quixadá: 9,8%
  • Fogareiro, em Quixeramobim: 11,75%
  • Monsenhor Tabosa, na cidade de mesmo nome: 0,31%
  • Patu, em Senador Pompeu: 13,40%
  • Quixeramobim, na cidade de mesmo nome: 11,96%
  • São José II, em Senador Pompeu: 4,36%
  • Serafim Dias, em Mombaça: 1,48%

O Orós, na região Centro-Sul cearense, acumula uma pequena melhora, passando de 20,84% em 1º de janeiro para 21,20%, atualmente. “Até agora tem sido uma recarga muito pouca”, pontua Alcântara.

Precipitações abaixo da média

O diretor de Operações da Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (Cogerh), Bruno Rebouças, fez um balanço parcial da atual quadra chuvosa e comparou que mesmo na região Norte, onde há melhores índices de precipitações, as bacias mal recuperaram o volume que havia no início deste ano e permanecem aquém em relação ao mesmo período de 2020.

“Chegando ao fim de março, a gente observa a concretude da previsão climatológica de chuva abaixo da normal e chama a atenção para a região Norte do Estado, que tem tido as melhores chuvas, historicamente, mas que neste ano está aquém dos registros de 2020”, pontuou Rebouças.

Há exato um ano, na região Norte, a bacia do Coreaú acumulava 94,9% e hoje está com 73%; a do Acaraú estava com 75,7% e hoje caiu para 71,84%. Outra queda observa-se em relação à região da Ibiapaba, que apresentava volume de 73,6% e um ano depois registra queda e está com 66,3%.  

“Os maiores reservatórios do Estado ainda não recuperaram o volume que estava sequer em 1º de janeiro”, observou Rebouças. “O que mais chama a atenção é justamente a porção centro-sul cearense, onde os açudes nas bacias do Banabuiú, Alto e Médio Jaguaribe estão com volume reduzido”.

Para Bruno Rebouças “é necessário manter a economia e o uso eficiente da água”. Ele frisou que “o açude Castanhão, o maior do Estado, está com 7 milhões de metros cúbicos abaixo do que estava no início deste ano”. Ele lembrou que a recuperação do volume do Castanhão nas últimas semanas é modesta, mesmo com a chegada das águas do rio São Francisco.

Bacias

O Ceará tem 12 bacias hidrográficas. Três delas são estratégicas para o aporte dos açudes Castanhão, Orós e Banabuiú, os maiores do Estado, são as que apresentam menor volume. O quadro acende a luz amarela para o segundo semestre deste ano e início de 2022.

A quadra chuvosa (fevereiro a maio) chega à metade e para os próximos dois meses são esperados menores acumulados de precipitações. “As previsões da meteorologia se confirmam e, em abril e maio próximos, as chuvas devem ficar abaixo da média para o Centro-Sul cearense e grande parte do Estado”, disse o meteorologista Flaviano Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).