Era tradição: quando se sabia que Guaramiranga sediaria mais uma edição do Festival Jazz & Blues, a cidade se preparava inteira para receber montes de visitantes dos quatro cantos do Brasil. Pousadas, hotéis, restaurantes, cafeterias, lojas de artesanato, tudo era organizado para dar conta da alta demanda, que chegava à serra com movimento, som e energia festiva.
Dessa vez, apesar de tudo ser diferente, havia uma expectativa saudosa - e, talvez, ingênua - dos moradores em reviver os tempos pré-pandêmicos.
A cidade no Maciço de Baturité sedia, neste fim de semana, o festival em formato de primeiro evento-teste do Ceará. A estreia, na noite dessa sexta-feira (17), foi considerada tranquila e cumprindo todos os protocolos sanitários.
Na memória da Renata Vitória, 17, quando tem Jazz & Blues, Guaramiranga lota. Ela nunca chegou a apreciar o festival em si, mas gosta da movimentação. Porém, consciente do risco da Covid-19 e com medo de mais um surto da doença, ela não quer que as coisas "voltem ao normal" de qualquer jeito. Tem que ser com respeito às novas normas de segurança.
"Creio que, daqui para a frente é só melhora", espera ela, que trabalha numa lojinha de artesanato no centro da Cidade e precisa que as vendas sejam reaquecidas.
Protocolos e monitoramento
Com barreiras sanitárias nas duas entradas da cidade, Guaramiranga, hoje, exige que o visitante apresente comprovante de hospedagem e de ter tomado pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19. Não importa quantas vezes a mesma pessoa chegue à barreira: tem que mostrar que está dentro do protocolo sanitário municipal.
Na sexta à noite, enquanto, num campo de futebol distante do centro, tocavam os primeiros artistas do festival, policiais militares percorriam a cidade monitorando o uso obrigatório de máscara e dispersando aglomerações. As rondas "de observação" permaneceram até quase meia-noite, quando os agentes passaram a fiscalizar o fechamento de todo o comércio.
Na manhã seguinte, Cristiane Leitão, 42, que trabalha como gerente comercial numa cafeteria na praça principal de Guaramiranga, disse que, apesar de os protocolos sanitários estarem sendo rigorosamente seguidos e fiscalizados na cidade, a circulação de policiais foi atípica. Talvez, ela acredita, por causa do festival.
"Ontem, era só o povo [policiais] passando aqui e gente que não conhece a cidade achando que a cidade era perigosa. Aí a gente teve que explicar: 'não, é porque tem um evento-teste que precisa de tudo isso'. Na mente das pessoas, é um exagero. Uma polícia atrás da outra. [...] Isso inibe muito, essa questão de barreira, mas a gente sabe que precisa", entende Cristiane.
Ela contou ainda que constantemente são ofertados testes para detecção da Covid-19 nos habitantes. "E o certo é isso. Porque, devido à pandemia, a gente precisa passar por esses testes pra eles [poder público] poderem avaliar como vai ser depois".
Esperança
A possibilidade de Guaramiranga reabrir e voltar a ser um polo turístico importante do Estado é o que mantém a esperança de Débora Cartaxo, 23, administradora de uma pousada local que, até o momento, não recebeu nenhum hóspede para o Jazz & Blues.
"Sempre o festival é muito esperado aqui na Cidade, é bem marcado. Não tá sendo o que a gente esperava. Do tempo que tô aqui, peguei dois festivais. Era muito bom o movimento. A gente fica triste [com a realidade atual] porque o comércio precisa se manter".