Um estudo publicado nesta semana pela Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, mostra que estratégias de nutrição para raças de ovinos podem reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Inicialmente, foi diminuído o alimento volumoso (feno de Tifton) na dieta de 64 fêmeas da raça Santa Inês, com redução de 57% da emissão do gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa. Além do benefício ambiental, a técnica viabiliza maior produtividade ao setor.
Também foi criada uma dieta para fêmeas em crescimento da raça Somalis Brasileira. Neste caso, a redução de gases poluentes chegou a 30%. “A pesquisa foi realiza em diferentes momentos, considerando as situações de produções em confinamento e em pasto”, explica Marcos Cláudio Pinheiro, pesquisador da área de nutrição de ruminantes da Embrapa. Cada ensaio experimental dura cerca de um ano e, depois, leva mais um para publicação dos resultados.
“O estudo é totalmente aplicável. A ideia é simplesmente trabalhar com dietas e a Embrapa fica aberta a parcerias para ampliação dos tipos”.
A estrutura tecnológica vem sendo montada desde 2009 em Sobral, com parceria de diferentes entidades que se interessam pela temática. Para ter ideia, o Laboratório de Respirometria, onde o estudo foi desenvolvido, é a única estrutura do tipo em regiões tropicais semiáridas do planeta. “Além de gerar informações para o nosso bioma pode servir de referência para outras regiões semiáridas do mundo”, destaca Pinheiro.
Pesquisa
Segundo ele, há dois tipos de retornos com a pesquisa: pagamento por serviços ambientais, que pode agregar valor aos sistemas produtores de pequenos ruminantes (caprinos e ovinos); além de uma otimização da eficiência produtiva dos animais. “Além da questão ambiental, há um aumento da eficiência produtiva dos animais, naturalmente, respeitando-se suas características biológicas”, destaca.
Os experimentos trabalharam com diferentes proporções de alimentos volumosos e concentrados. No estudo, constatou-se que a melhor resposta se dá com 20% de alimento volumoso e 80% de concentrado, o que aponta para a utilização de dietas com ingredientes como grãos, tortas, farelos e óleos vegetais. Isso pode representar uma diminuição da emissão de gases metano e CO2, para ovinos adaptados ao Semiárido brasileiro.
“A Embrapa já tem um norral de dietas desenvolvidas que podem aplicadas diretamente. No âmbito de políticas públicas, associativas, a Embrapa espera utilizar a aplicação dessas dietas muito brevemente”, destaca Pinheiro.
Impactos ambientais
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), caprinos e ovinos localizados na América Latina - portanto o Brasil, e Caribe são responsáveis por cerca de 6% das emissões globais de gases de efeito estufa entre as classes de animais. Em todo o planeta, a produção animal é introduz 14,5% das emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente.
Gases de efeito estufa da produção animal:
- Metano (CH4): 50%
- Dióxido de carbono (CO2): 26%
- Óxido nitroso (N2O): 24%
Destaca-se que, da produção de metano, 30% é decorrente dos animais ruminantes, já que o gás é gerado principalmente na digestão.
Dietas de Alto Concentrado
A estratégia faz parte das chamadas Dietas de Alto Concentrado (DAC), alternativas de nutrição que trazem benefícios à produção de caprinos e ovinos. Com o estudo, é possível reduzir em até 15% os teores de nutrientes nas formulações normalmente utilizadas no Brasil. Isso representa redução de custos e têm estimulado, por exemplo, outras avaliações da Embrapa no manejo alimentar com plantas forrageiras, tecnologia utilizada no Ceará.
Outra vantagem é a redução do período de confinamento e terminação (engorda para abate) dos animais. “Os impactos positivos sobre a produção são diretos a partir do momento que se trabalha a redução de gases por estes animais, notadamente o metano. Além das questões ambientais, esse metano também representa perdas energéticas, que o animal precisaria para seus processos digestivos e outras atividades”, explica Pinheiro.
“Quando houve essa diminuição de capim na dieta com o incremento de concentrados nós atingimos a redução de metano”.
Caatinga
O pesquisador explica que é preciso utilizar os recursos disponíveis no bioma Caatinga de forma inteligente. “Entendendo melhor tudo isso é possível utilizar os sistemas produtivos”, aponta. Segundo ele, a ideia de que o bioma é improdutivo é ultrapassada e precisa ser repensada. “Se a gente utilizar bem as condições ofertadas, é possível haver uma produção eficiente e sustentável ambientalmente e gerando emprego e renda para os produtores”.
Conheça, abaixo, outras técnicas desenvolvidas pela Embrapa para convivência com o semiárido:
- Gás traçador: Consiste no enriquecimento da área de pastejo no período chuvoso do ano. O resultado é uma menor produção de gás metano. A técnica se baseia na introdução de uma cápsula no estômago do animal com uma taxa de liberação conhecida, misturando-se aos gases da fermentação e permitindo identificar e quantificar o metano produzido.
- Plantas na dieta: Usando a mucuna preta (leguminosa) e folhas de mufumbo (planta) foi observado uma menor produção do metano. A dieta com introdução das folhas do mufumbo reduziu em 50% as populações de bactérias responsáveis pela emissão de metano no sistema digestivo.
Conheça o estudo completo sobre o incremento das dietas e outras pesquisas da Embrapa neste link.