Costureira do Cariri restaura, cria e veste bonecas

Aos 69 anos, Dalvani Oliveira se dedica integralmente aos brinquedos. Ela não só cria as roupas, como restaura as bonecas com peças doadas

Aos sete anos de idade, Dalvani Oliveira Sousa ganhou a primeira e única boneca, feita de porcelana. Nem podia brincar com medo de quebrá-la. “Era preciosa”, descreve. O que faltou na infância hoje ela tem aos montes. Aos 69 anos, a artesã e costureira cratense é proprietária do “Hospital das Bonecas”, localizado na cidade vizinha de Barbalha. No local, ela cria e restaura os brinquedos. Além disso, especializou-se em costurar roupas feitas sob medida, para fazer a alegria das crianças.

Há uma década, a rotina de Dalvani é intensa. O barulho da máquina de costura não para. Com muita concentração, ela verifica cada detalhe da encomenda que acabou de receber: três vestidos de festa, uma de bailarina e um biquíni. As roupas vestirão uma ‘Barbie’. “As pessoas dizem como querem e eu faço. Alguns trazem modelo ou tiram da internet”, explica.

Isso não diminui a criatividade da costureira, que prefere criar os próprios modelos, usando retalhos de tecidos. O minucioso serviço dura entre duas e três horas. Em sua outra especialidade, a “médica” resgata bonecas inteiras, ou apenas partes do corpo, do lixo para restaurar. “Quando encontro braço, perna, eu guardo. Alguns vizinhos me dão. Aí depois faço o ‘transplante de órgãos’”, brinca.

O serviço de restauração depende do tamanho das bonecas, mas, geralmente, leva um dia inteiro, já que Dalvani faz toda a limpeza, cria uma nova roupa e – caso falte alguma parte do corpo– vai pesquisar no extenso “banco de membros”, como ela mesma chama uma caixa que reúne uma variada quantidade de pernas, braços e cabeças dos brinquedos. O trabalho custa entre R$ 25 e R$ 45. “Dá pra ajudar”, ressalta.

Na medida em que a procura foi crescendo, o ateliê aumentou. Hoje, as bonecas estão espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Pernambuco, segundo Dalvani. As peças, que considera “filhas”, recebem um carinho especial. Quando alguma criança vai deixar um brinquedo, a costureira tem todo cuidado para conquistar sua confiança, porque as menores, em sua maioria, se recusam a largar o objeto. “Eu digo assim: ‘não, meu amor, ela tá doente, vai tomar o remedinho e quando tiver alta, eu peço para sua mãe pegar’”, narra. 

Início 

A atividade começou ainda jovem, quando costurava principalmente fardas de colégio, para as crianças de Crato. Dona Alzira, sua mãe, emprestava a máquina que ainda funcionava com pedal. Aos poucos, Dalvani foi se aventurando e criando roupas infantis. Com a habilidade para usar linhas e agulhas, começou a fazer peças ainda menores para vestir as bonecas das filhas de empresários e políticos. “Aí fiquei só nisso”, lembra.

A paixão pelas bonecas fez a costureira aprender a conviver com um problema de saúde: a artrose. “Fiquei paralisada”, enfatiza. Depois que os filhos abriram para ela a ‘Casa da Arte’, tudo mudou. “Eu me reanimei. Eu sinto muitas dores ainda, principalmente nas mãos, nos braços, e nas pernas, mas estou bem melhor”, conclui Dalvani.