Comunidade ‘resgata’ tradição do maneiro-pau em Limoeiro do Norte

Após 13 anos da morte de liderança folclórica, família se reúne outra vez após iniciativa da Academia Limoeirense de Letras

Uma importante diferença entre a nostalgia e a saudade é que esta se pode matar, dar um fim. Quando deu pela falta das brincadeiras folclóricas, a plateia mais antiga perguntou “cadê?”. A resposta geralmente é que foram enterradas com seus brincantes. Mas poetas e outros artistas de Limoeiro do Norte decidiram cavar memórias sepultadas para fazer o que se convencionou chamar “resgate”. E assim ressurgiu o Grupo Maneiro-Pau Mestre Luiz Estêvão.

Na comunidade de Maria Dias, típico retrato da caatinga residencial, com mato seco, cerca de arame farpado, boi, casas ladeadas defronte a estrada de piçarra, viveu Luiz Estêvão com sua família.

Cresceu brincando o maneiro-pau, dança legítima sertaneja que reúne pessoas em roda, cantando e dançando enquanto tocam cacetes de tronco de jucá que dão percussão e sintonia, feito formigas que, ao se encontrarem, conversam pelas anteninhas.

Tudo isso enquanto plantava e colhia, porque até os anos 80 a sina dali é cuidar de bicho, da casa ou da agricultura. Maneiro-pau era a diversão.

Tradição

Os brincantes se reuniam nas festas religiosas, quermesses ou pela simples vontade de brincar ou, como muitos dizem, também jogar.

“A gente veio aqui pra jogar pau, jogar pau”, sempre inicia o Mestre Cirilo, de grupo folclórico no Crato e uma das maiores referências da dança no Estado, assim como Manoel Antônio, o Mestre Bigode, de Juazeiro do Norte.

Vem mesmo do Cariri a forte tradição dessa dança/jogo/brincadeira que remete aos tempos do cangaço.

“É uma dança genuinamente cearense. Fomos visitar a comunidade de Maria Dias e encontramos dois remanescentes, que são Cangati e Dedé”, explica o músico Gilson Saraiva, contando como tudo recomeçou.

Ele queria conhecer a manifestação folclórica e fazer registros, mas quando chegou lá descobriu que estava desativado.

O poeta Majela Colares, ‘imortal’ da Academia Limoeirense de Letras (ALL), pensou que se não for feito nada, as tradições, além de mortas, serão esquecidas. E assim foram conversar com a família de seu Luiz.

“São tradições que fazem parte das nossas infâncias, mas que podem fazer parte do presente também, desde que não se apague, pois é a identidade do nosso povo”, explica Majela.

Recomeço

Os parentes de Luiz Estêvão, falecido em 2008, já haviam tentado outras retomadas e aceitaram o novo convite, capitaneados pela professora Lindinalva Maia, liderança da comunidade e agora coordenadora do Grupo Maneiro-Pau Mestre Luiz Estêvão.

Após a retomada de ensaios, o grupo folclórico fez a primeira apresentação de retorno nos 21 anos da Academia Limoeirense de Letras. O recomeço deu-se no largo da Igreja Matriz de Limoeiro do Norte, no dia 21 de outubro:

“Com licença, seu Luiz/ Hoje nós vamos dançar/ Seu legado segue vivo/ Vamos todos festejar… maneiro-pau/ maneiro-pau...”.

A apresentação dos adultos empolgou o público infantil e agora nasce também o “maneiro-pau mirim”, para alegria do músico Gilson Saraiva: “a criançada fica louca de participar e a gente espera que essa cultura siga enfeitando o Sertão”.