Um cachorro gravemente ferido buscou, sozinho, uma clínica veterinária em Iguatu, no interior do Ceará, na manhã dessa quinta-feira (24). A chegada do animal, recebido por uma funcionária do estabelecimento, foi registrada em imagens de câmera de segurança do local.
Nas imagens, a funcionária Cândida Maria se aproxima do cão e percebe que o animal está com ferimento grave na região do pescoço. "Quando ele entrou, eu logo notei, só que primeiro fiquei observando para saber se ele estava acompanhado, e eu vi que não", afirma. "Eu fui me aproximando devagarzinho, tanto pra não assustá-lo quanto porque não sabia a reação dele".
Após se certificar de que o animal estava desacompanhado, ela buscou o médico veterinário Igor Holanda, noivo dela, que não tinha percebido a aproximação do cão.
"Ele poderia ter ido pra qualquer outro lugar, poderia ter seguido e ido pro entorno do mercado, mas ele veio pra cá e entrou [...] Foi realmente coisa de Deus, porque ele tava precisando de ajuda. É como se ele soubesse: 'aqui, eu vou ter a ajuda que preciso'", conta Cândida.
O médico veterinário também ficou surpreso com a chegada do cachorro. "Foi uma situação bastante inusitada, porque a gente não sabia se esse animal estava chegando com algum tutor, com algum responsável. Até demoramos um pouco a entender a situação, mas aí, logo em seguida, a gente viu que se tratava de um pedido de ajuda".
Lesões infeccionadas
Conforme Igor Holanda, o cachorro, de médio porte, apresentara grandes lesões na região do pescoço, na cervical, as quais estavam infeccionadas e com larvas. "A gente fez o primeiro tratamento, que foi a limpeza da ferida, e a avaliação clínica geral do animal. Vimos que era um animal que estava bem, mas já começava a se debilitar por causa dessa lesão", explica.
Ainda segundo o médico veterinário, a ferida geralmente decorre de brigas com outros animais em situação de rua. Com o passar do tempo, o ferimento, sem ser cuidado, aumenta em razão de infecções.
O cachorro, agora, passará por tratamento de sete dias, com antibióticos, anti-inflamatórios e tratamento tópico antes do procedimento cirúrgico. Ele também foi castrado.
Após a ferida ser tratada, o profissional entrou em contato com a ONG Vira-Lata de Raça buscando ajuda para alojamento do animal.
Animal já era procurado
De acordo com Valéria Rodrigues, responsável pela ONG, o animal já vinha sendo buscado pela entidade após uma testemunha alertá-la via WhatsApp. "Ela pediu socorro para esse animal, que estava sendo comido, devorado por larvas. Ou seja, alguma briga de um animal de rua que causou um ferimento em que a larva tomou uma proporção muito grande, machucando ele todinho".
Em razão de a mensagem não ter sido vista num primeiro instante, Valéria descobriu, posteriormente, que o cachorro havia sido solto devido ao mau cheiro. "Tiveram de soltar ele, e ele foi em direção à Rua 13 de Maio. A gente começou a procurar esse animal, mas sem sucesso".
A responsável pela ONG tomou conhecimento do animal quando o cão estava sendo atendido na clínica, ao receber o contato de Igor Holanda. O médico veterinário afirmou que faria todo o tratamento do cão, mas não teria como interná-lo no estabelecimento em razão da falta de espaço. "Como já estávamos buscando esse cãozinho, a gente se comprometeu a ficar cuidando dele", destaca.
Cachorro não pode ficar em abrigo
Valéria, contudo, ressalta que o cachorro, ainda sem nome, não pode ficar no abrigo por ser macho — o local recebe apenas fêmeas. "A gente vai tentar uma adoção pra ele, ou ele vai ficar na casa de algum protetor enquanto consegue um lar", diz. "Aparentemente, ele tá se alimentando bem, tá andando, mas a infecção tá muito grande".
"A infecção dele não é uma coisa simples, porque o estrago foi grande em cima, e tem outro ferimento nas costas dele para ser tratado. Então, assim, a gente reza para que dê tudo certo e ele seja adotado".
Valéria afirma que a população, ao notar um animal machucado, não nutre empatia por ele. "As pessoas quando veem assim só enxotam; não tem atitude de pegar, prender, de colocar um remédio em cima. São poucos os que fazem isso. É complicado, pois eles sofrem muito mais ainda e quando chegam a gente já estão nesse estado", pontua.