Autobiografia de um diplomata

No mais recente livro, o diplomata José Flávio Sombra Saraiva conta a infância que viveu em Limoeiro do Norte

Limoeiro do Norte. “Fui menino de óculos grossos na face tenra de criança, de miopia precoce”, mas a miopia ficava na deficiência ocular de quem pode enxergar além dos horizontes geográficos e humanos e de quem, para melhor conhecer a si, conheceu o mundo. O diplomata brasileiro, professor de fama internacional e reconhecido com vários títulos acadêmicos internacionais, é também o menino de miopia e destino precoces, nascido com ajuda de parteira em casa no sertão de Limoeiro do Norte, de família respeitada nas artes e na educação. Do sertão do Ceará para o centro do Brasil, e deste para a periferia mundial, José Flávio Sombra Saraiva percorre o mundo, faz descobertas e em cada estiva-travessia e traça memórias, condensadas no livro “Quinze Estivas do Mundo”, obra entre a memória do professor, a determinação do ser humano e o exemplo biográfico, para mostrar à juventude de com quantas travessias se faz o melhor caminho.

De repente, o homem que foi embora muito menino, entrou na Universidade de Brasília (UnB), onde conquistou todos os possíveis títulos para um aluno e para um professor, retorna a Limoeiro do Norte, terra de seus pais e dele próprio, fazendo a travessia de volta para contribuir com conhecimento e exemplo. “José Flávio Sombra Saraiva é um intelectual de extraodinários méritos (...) cidadão dos cinco continentes, já atuava no palco da globalização muito antes de esse fenômeno conquistar o interesse da mídia e tornar-se assunto recorrente”, afirma o professor René Barreira, secretário de Ciência e Tecnologia do Ceará e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), no prefácio da obra.

“Quinze Estivas” traz 15 travessias em mais de três décadas de estudos e trabalhos. Traça memórias da trajetória do sertanejo que ganhou o mundo, traz as impressões do mundo, não de considerações alheias aos contextos, mas de embasamento empírico, de anos de pesquisas, de quem escreve com labor científico, “de transpiração mais que de inspiração”. As estivas-capítulos começam dos sertões aos internacionalismos, passa por América Latina, África e Europa, a ciência como vocação, a política externa do Brasil e as estivas que premiam e humanizam o homem já reconhecido.

Os textos são ricos em informação científica e ao mesmo tempo despidos de qualquer preciosismo acadêmico. Nisso o autor deixa clara uma intenção: chegar aos jovens, assim como ele foi um dia ao decidir ganhar o mundo – bem mais jovem, aos 12 anos, escreveu seu primeiro livro, comprovando que o sonho de ser o que é já era antigo: “Viagem ao mundo antigo”.

Professor Titular de Relações Internacionais da UnB, mestrado no El Colégio Del México, doutorado com título de PhD em História pela Universidade de Birmingham (Inglaterra), onde foi premiado pela melhor tese, estudos pós-doutorais em Oxford, dirigente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), premiado com a melhor tese de doutorado, Flávio Saraiva ainda foi premiado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), pelos serviços prestados às causas humanitárias no campo de proteção dos refugiados. Como diplomata a serviço do Brasil viajou a vários países, notadamente à África, onde concentrou muitos de seus estudos e contribuiu com as primeiras publicações no Brasil sobre a África contemporânea – seu livro mais querido é “O lugar da África: a dimensão atlântica da política exterior do Brasil”, que publicou em 1996. São 19 livros lançados e dezenas de artigos publicados em vários países. O mais recente foi lançado na Academia Limoeirense de Letras, da qual faz parte.

MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador