Algas geram fonte de renda

Se antes as algas marinhas iam para o mercado europeu, agora ficam em Icapuí gerando alimento e dinheiro

Icapuí. Nem só para peixe está o mar, nem lagosta, ou vento para velejar. O pescador traz peixe e lagosta, e as ondas também trazem comida. Algas marinhas são a base de pratos servidos na merenda escolar em Icapuí. A gelatina ou o mousse de alga marinha que vai para a merenda de creches e escolas públicas é a renda das realizadoras do Projeto Mulher de Corpo e Alga. Elas descobriram na beira do mar um verdadeiro tesouro, porque transforma comida, e também sabão, sabonete, xampu, hidratantes... dinheiro.

Tem quase oito anos que as mulheres da comunidade de Barrinha, em Icapuí, sabem o que fazer com as algas, aqueles vegetais que se arraigam dentro do mar, mas também ali na areia, nas rochas, servem de comida no ecossistema marinho e, por sua vez, de crianças como Alexia, de 3 anos, filha de Maria Claudinete, mulher de pescador, participante do Projeto Mulher de Corpo e Alga.

Brasil Cidadão

As algas eram retiradas pelas mulheres que vendiam para empresas internacionais, os primeiros a encontrarem o tesouro. O material coletado com mão de obra baratíssima era a base de cosméticos comercializados no mundo. Hoje também é, mas dessa vez são as próprias catadoras que beneficiam e industrializam as algas. As mulheres foram capacitadas pela Fundação Brasil Cidadão, com técnicas sobre produção de alimentos e cosméticos a partir das algas trazidas pelo mar.

"Deixamos de ser só as catadoras para determos todos os processos com a alga. Agora ajuda na nossa renda. É um trabalho que está começando, mas tem tudo para crescer", afirma Maria Leidiane da Silva, a "Biana", das Mulheres de Corpo e Alga, um projeto da Associação dos Moradores da Barrinha (Ambar). Todas as tardes, ao menos 15 mulheres se reúnem na cozinha da casa-sede do projeto para a produção de gelatinas, mousses, iogurtes, panquecas e macarronadas, à base de alga.

A Prefeitura Municipal de Icapuí compra tudo o que é produzido no setor de alimentação, abastecendo a merendeira de creches e escolas públicas. Gelatina e mousse são os alimentos mais fabricados. Os principais cosméticos produzidos são sabonete em barra, sabonete líquido, hidratante para a pele e esfoliante. A alga que saía de Icapuí, sem volta, porque industrializada para o mercado europeu, agora fica, e os cosméticos produzidos de forma associativista também complementam a renda das famílias de pescadores. De acordo com as empreendedoras, o dinheiro apurado com a venda é, primordialmente, colocado para pagar as despesas e fazer novos investimentos, depois é dividida uma parte igualmente para os que produziram. "Não é muito, mas é um começo", afirma Leidiane, sobre o meio salário mínimo mensal, em média, para cada participante. As algas marinhas são reconhecidas cientificamente como alimento de alto valor nutricional. Baixo teor em calorias e gorduras, alta concentração de minerais, vitaminas, proteínas e carboidratos são alguns de seus atrativos.

Consideradas alguns dos seres vivos mais antigos da Terra, as algas marinhas são uma das poucas verduras silvestres e um recurso renovável.

A casa de beneficiamento do Projeto Mulheres de Corpo e Alga passou por uma reforma para obedecer às determinação das Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Estão separados os setores de cosméticos e alimentos. Para Leidiane, a expectativa é de que, além do valor agregado às algas, também mais pessoas se agreguem à atividade. "Há empresas interessadas, mas nada que comprometa nossa autonomia".

Participação
15 mulheres participam, atualmente, do beneficiamento de algas no Município de Icapuí. Até 2011, deverão ser investidos R$ 66 milhões no Projeto "Algas do Ceará", que ampliará atividade

MAIS INFORMAÇÕES
Projeto Mulheres de Corpo e Alga, Comunidade de Barrinha
Município de Icapuí - Litoral Leste
Maria Leidiane, (88) 9408.4324


Melquíades Júnior
Colaborador