As decisões sobre planejamento urbano afetam dramaticamente a qualidade de vida nas cidades, argumenta a urbanista e editora Bianca Antunes. “Em uma era urbana – hoje no mundo mais de 50% das pessoas vivem nas cidades; no Brasil, esse número chega a 85% – é essencial saber como o ambiente em que vivemos funciona para podermos atuar nele. Mas esse conhecimento ainda é restrito aos especialistas da área ou fica na Academia”, afirma Bianca Antunes ao defender a democratização da discussão sobre arquitetura e urbanismo, inclusive com as crianças.
Jornalista de formação, a jovem é autora da série Casacadabra (Pistache Editorial), composta por livros infantis sobre arquitetura e urbanismo. Eles têm coautoria de Simone Sayegh, arquiteta e graduanda em pedagogia, e ilustrações de Carolina Hernandes (Casacadabra: Invenções para Morar) e Luísa Amoroso (Casacadabra: Cidades para Brincar).
O segundo volume, “Casacadabra: Cidades para Brincar”, será lançado hoje à noite em Fortaleza, após palestra sobre arquitetura e cidades para crianças, que está programada para 19 horas, no auditório Carneiro da Cunha do Centro Universitário Fametro (Unifametro) – Campus Carneiro da Cunha (Rua Carneiro da Cunha, 180 - Jacarecanga).
Além de participar da palestra, hoje à noite, Bianca Antunes ministrará oficina de urbanismo para crianças amanhã (dia 8), de 8h às 12h, no pátio central do campus mencionado. “Não existe restrição de idade, mas crianças entre 6 e 11 anos vão aproveitar mais”, relata Luiz Cattony, professor de arquitetura da Unifametro. Para participar: https://forms.gle/PyZXahGZNBJQ1SLf7
Diário do Nordeste: De que se trata a série Casacadabra?
Bianca Antunes: São dois volumes, o primeiro sobre arquitetura e o segundo sobre urbanismo. A ideia surgiu quando a Simone Sayegh – coautora dos livros – foi procurar um livro de arquitetura para sua filha, que tinha então 8 anos, e não encontrou. Foi quando me procurou, no final de 2013, e disse: precisamos fazer um livro de arquitetura para crianças. Até 2016, quando lançamos o primeiro livro (Casacadabra: Invenções para Morar), fomos maturando a ideia, buscando referências sobre livros de arquitetura para crianças, linguagem, apresentação e outros aspectos. O segundo livro, sobre urbanismo e espaços públicos, lançamos em 2018. Nossa ideia é que a arquitetura e o urbanismo comecem a ser entendidos desde cedo, para que as cidades sejam construídas, no futuro, priorizando uma melhor qualidade de vida: uma cidade mais humana, mais atraente para o caminhar, com menos ruído, menos poluição, mais mobilidade eficiente, mais espaços de encontro etc.
Que atividades interativas são propostas durante a leitura?
Nos dois volumes, há espaços para escrever, pintar, ligar pontos, entre outras atividades. No primeiro livro, temos o Miniarquiteto, com atividades pensadas de maneira muito criteriosa para incentivar as descobertas e para que algumas técnicas não ficassem restritas à teoria e à imaginação. Com a boa resposta que tivemos no uso do livro em sala de aula, decidimos reunir as propostas no segundo volume. Nele, temos uma seção chamada Miniurbanista, com oito propostas de atividades que instigam o olhar para o espaço urbano. A ideia é que a conversa sobre as cidades se expanda para além do livro e passe a ser feita com os pais e nas escolas.
Você pretende incrementar a série?
Temos novas ideias de livros e de jogos educativos, mas estão ainda em fases preliminares. Mas com o Casacadabra abrimos um mundo de possibilidades e estamos trabalhando também com workshops, oficinas, vivências e planejamento participativo com crianças.
Fale sobre a oficina a ser ministrada amanhã para as crianças.
Na oficina “Casacadabra”, debatemos a função como a cidade é construída, como as crianças se locomovem, como seria a cidade dos sonhos delas. Com a mão na massa, elas constroem maquetes com materiais recicláveis e montam, juntas, uma pequena cidade dos sonhos. Observando a cidade e as construções de maneira divertida, as crianças descobrem que são também responsáveis por fazer o espaço urbano.
Qual a importância de se trabalhar urbanismo com crianças?
Passar a perceber, desde o Ensino Básico, que a qualidade do espaço pode mudar comportamentos, por exemplo, é uma maneira de questionar o lugar em que vivemos, ou outros que visitamos, compará-los, buscar propostas para cidades mais humanas, mais vivas, construídas para as pessoas usufruírem delas sem medo. A cidade é de todos – e temos visto, cada vez mais, a vontade de participação civil no espaço urbano – então por que seus códigos devem estar restritos apenas ao entendimento dos especialistas? As crianças aprendem sobre ecologia na escola, sobre não sujar as ruas, sobre economia de água e voltam para casa ensinando os pais. Por que não discutir como se mora e por que moramos assim hoje? As novas gerações só terão a ganhar com isso.