Doação propaga histórias de amor e fé

Gesto de solidariedade, além de salvar vidas, traz novas oportunidades para muitas pessoas reformularem seus objetivos e continuarem a ajudar o próximo.

Legenda: Da esquerda para a direita: Diógenes Lima de Castro, Célia Maria Alcântara Silva, Marilac Batista Pereira e Sheila da Costa. Receptores redescobrem o valor das coisas simples.
Foto: Denise Marçal/ Divulgação

Quando um órgão é doado, uma pessoa é salva da morte e ganha novas oportunidades: de realizar sonhos, de fazer o bem ao próximo, de continuar vivendo ao lado de quem ama. Graças a esse gesto, a costureira Marilac Batista Pereira, de 58 anos, viu os filhos casando, os netos nascendo e viveu uma nova história de amor. Foram muitas emoções ao longo dos últimos 17 anos, depois que recebeu um novo coração.

Marilac conta que o transplante aconteceu em um momento em que tudo estava de cabeça para baixo, com problemas domésticos e conjugais. Quando estava na fila do transplante, uma promessa foi feita: depois que recebesse um coração, tudo seria diferente.

“Quando eu receber o coração novo, tudo o que está acontecendo agora vai embora com o outro coração”, decidiu, na época.

De coração novo, Marilac ressignificou a vida e deixou para trás o que lhe fazia mal, inclusive o casamento. E a nova chance que recebeu de viver permitiu-lhe ver os seus maiores sonhos se realizando. “Nesses 17 anos tenho feito tudo de bom: vi meus filhos casando, chorando de alegria por estar viva e por Deus ter me dado esse coração. Pedi tanto a Deus para ver meus filhos casarem e crescendo”, diz, entre lágrimas.

Renascer

Difícil não se emocionar com este e outros relatos que se ouve em uma visita à Associação dos Transplantados Cardíacos do Ceará, no bairro Messejana, em Fortaleza. São histórias de pessoas que nasceram de novo, estão vivas e repletas de gratidão às famílias doadoras. Nem sempre é possível saber a identidade de quem doa, uma vez que doador e receptor são resguardados por sigilo médico. Mas, em alguns casos, quando há duplo consentimento, famílias doadoras e receptores podem se conhecer e a gratidão pode ser expressa de forma mais pessoal.

Esse é um privilégio que o aposentado Diógenes Lima de Castro, de 48 anos, tem. Depois de 8 meses de transplantado, teve a oportunidade de conhecer a mãe que lhe doou o coração do filho. O encontro foi proporcionado pelo programa Paz e Amor, da TV Diário, em maio de 2017. Desde então, ele a reconhece como mãe do coração. “Todo mês costumo visitá-la. Dou um abraço para ela escutar esse coração”, afirma Diógenes Lima de Castro.

Além de receptor, Diógenes é doador: do seu antigo coração as válvulas puderam ser aproveitadas para salvar outra vida. “Meu coração foi retirado e enviado de avião para Curitiba, onde se faz captação de válvulas cardíacas”, explica.

Com o coração novo, Diógenes ganhou nova perspectiva de vida e a chance de viver com qualidade. “Quando você tem cardiopatia grave não dorme, sente dor. Sai do banheiro cansado até por abrir e fechar uma torneira. Você passa a valorizar as coisas simples”, observa.

Tarefas simples como essa e outras, a exemplo de pentear o cabelo e escovar os dentes, eram extremamente cansativas para a vendedora Sheila da Costa, de 55 anos, diagnosticada com cardiopatia em 2007. O problema se agravou tanto que precisou de um transplante. “Vivia mais internada do que em casa”, recorda.

O transplante aconteceu em 2013 em um contexto familiar delicado. “Para mim, foi agravante porque eu tinha acabado de receber o Moisés (filho adotivo) na minha vida e o meu marido estava com câncer. Antes de voltar para casa do transplante, ele morreu. Foi um abalo”, conta. De coração novo, Sheila conta que sua qualidade de vida deu um salto, em vigor físico e saúde. “Todo dia tenho que agradecer a Deus por essa família (doadora). Ela teve um ato de amor”, reconhece.

Nova vida

“Se não fosse a família dos nossos doadores, não estaríamos vivos”, diz a enfermeira Célia Maria Alcântara Silva, de 53 anos.

Reconhecer o que significa a doação de órgão já é suficiente para a emoção romper-lhe as lágrimas. Só quem lutou 20 anos com problemas cardíacos como ela, com idas e vindas a médicos, exames e uma saúde debilitada, sabe o que significa receber um novo órgão. “Hoje eu posso comer, dormir, respirar, o que é muito importante, pois antes não podia, sem aparelhos. Hoje posso varrer minha casa e fazer minha comida com prazer”, diz, sem segurar o choro, feliz de sentir o gosto pelas coisas simples.

O que salvou Célia Maria foi um transplante do coração, em 2016. Antes de receber o novo órgão, foi desenganada pelos médicos e quase não sobreviveu à cirurgia de transplante. A cirurgia começou à meia-noite, mas o coração só chegou às 4 horas da manhã. Eu fiquei muito tempo aberta e, na hora da cirurgia, tive uma hemorragia grave. Conseguiram cessar a hemorragia, mas o médico não estava certo se eu sobreviveria”, relata.

Após a cirurgia, o novo coração chegou a ser rejeitado duas vezes, mas as complicações foram resolvidas e a saúde, aos poucos, foi se recuperando."Na primeira vez que tomei um banho sozinha em pé, debaixo do chuveiro, eu chorei de emoção. Por várias vezes minha filha teve que me banhar e vestir, porque eu não podia. É como se a vida da gente desse um giro de 90 graus depois do transplante”, compara.

A simplicidade de fazer tarefas domésticas, cuidar de si e até aprender uma nova habilidade tem outro sabor para pessoas como Célia Maria, que receberam mais do que um coração saudável, novas chances de apreciar a vida. “Meu coração está maravilhoso. Agradeço primeiramente a Deus, depois à família doadora, que me deu essa nova oportunidade”, celebra a transplantada.

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