Qual o papel dos prefeitos na disputa entre Lula e Bolsonaro no Ceará

Desde o resultado do primeiro turno, esses mandatários têm sido peças fundamentais para medir a força de petistas e bolsonaristas

A menos de dez dias do segundo turno das eleições – e com a disputa já decidida para o Governo do Ceará – o foco das mobilizações no Estado virou a queda de braço entre apoiadores dos candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).  Nessa corrida em busca de apoios, os prefeitos aparecem como aliados estratégicos e cobiçados pelas lideranças estaduais.

Desde o resultado do primeiro turno, esses mandatários têm sido peças fundamentais para medir a força de petistas e bolsonaristas. Nos últimos dias, por exemplo, manifestações de apoio a Bolsonaro buscou fazer frente à retomada da aliança entre PT e PDT no Ceará em campanha pró-Lula.

Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres aponta o papel que esses mandatários podem ter em um pleito, ainda mais em uma disputa tão acirrada, pode ser decisivo.

“A atuação dos prefeitos é importantíssima, são eles que fazem os palanques e dão capilaridade para as campanhas. Eles montam a logística das campanhas na ponta, diretamente para o eleitor, então um prefeito pode ter interferência na decisão do voto daquela base onde ele atua"
Monalisa Torres
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

A pesquisadora, no entanto, é cautelosa sobre o empenho desses políticos na disputa pela Presidência da República. “É importante observar até que ponto esses prefeitos de fato estão empenhados em fazer palanque para esses nomes federais, porque o que mais mobiliza os prefeitos durante as eleições gerais são as candidaturas ao Governo do Estado, à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. Com a disputa para o Governo do Estado já resolvida, é preciso avaliar até que ponto estão fazendo realmente campanha", pondera.

Apoios no segundo turno

Até agora, pelo menos oito prefeitos cearenses – alguns que se mantiveram neutros no primeiro turno – declararam apoio à candidatura de Bolsonaro. Um dos casos mais recentes é do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos). Além dele, aparecem Rômulo Noronha (Solidariedade), de Parambu, Ricardo Silveira (PSD), de Quixadá, Valdi Coutinho (PSD), de Independência, e Jonas Muniz (PSDB), de Cruz.

Aliados de primeira ordem do prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), presidente do partido de Bolsonaro no Ceará, também já embarcaram na campanha de reeleição do presidente, entre eles Giordana Mano (PL), de Nova Russas, e Marquinhos Tavares (PL), de Itaitinga. O filho de Acilon, prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves (PL), ainda não declarou posição na disputa presidencial.

Para o sociólogo Jonael Pontes, essas declarações de apoio à reeleição do presidente no Ceará tem relação com o desempenho do candidato no primeiro turno.

“A partir das pesquisas, esperava-se que Bolsonaro não tivesse uma votação tão expressiva, então as urnas mostraram que o bolsonarismo capilarizou, seja pelas bandeiras ideológicas, pela própria proposta de campanha ou porque o PT enfrenta todas essas dificuldades de congregar uma frente ampla”
Jonael Pontes
Sociólogo

O pesquisador ainda ressalta que esses apoios atraídos pelo atual presidente são em áreas estratégicas. “Esses prefeitos são de cidades bem importantes, inclusive de bases eleitorais do PT. O Glêdson, por exemplo, de Juazeiro do Norte, onde o PT tem deputados estaduais e federais com bases eleitorais muito bem construídas”, acrescenta. 

Esses apoios municipais têm sido reforçados no Ceará em ação coordenada por lideranças do PL no Estado, que vêm promovendo caravanas pelo Interior com cabos eleitorais locais. Em Parambu, por exemplo, a “caravana bolsonarista” contou com a presença dos ex-ministros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia.

O prefeito da cidade, Rômulo Noronha, aproveitou a ocasião para reforçar o apoio a Bolsonaro. “Antes do prefeito existe o cidadão. Como prefeito, não preciso nem mencionar os avanços da nossa cidade depois da eleição do presidente Bolsonaro. Como cidadão, voto em Bolsonaro pela minha família, pela família de cada um de vocês”, declarou.

Em Juazeiro do Norte, a estratégia bolsonarista inclui também a realização de carreatas pela região. “Respeito quem pensa em sentido contrário, mas jamais vou deixar de exercer a minha liberdade de votar, de acordo com a minha consciência. Poderia votar pensando numa conveniência pessoal, porém, não iria me sentir bem diante da responsabilidade que tenho sobre os ombros”, declarou o prefeito de Juazeiro, Glêdson Bezerra ao anunciar apoio a Bolsonaro. 

Retomada na aliança

Do outro lado, PT e PDT iniciaram uma reaproximação após a disputa turbulenta pelo Governo do Ceará, quando as duas siglas lançaram candidaturas próprias e seus candidatos trocaram  acusações. Neste cenário mais recente, os prefeitos também têm ganhado protagonismo entre os aliados de Lula no Estado.

No último dia 10 de outubro, o senador eleito Camilo Santana (PT) e o senador licenciado Cid Gomes (PDT), principais lideranças dos dois partidos no Ceará, reuniram mais de 100 prefeitos no comitê petista para fortalecer a campanha de apoio a Lula no Ceará. O evento reuniu lideranças partidárias do PT, PDT, MDB, PCdoB, Psol, PV, Rede, PP, PRTB, PSC, Agir, PMB e Cidadania. 

Coordenador da campanha de Lula no Ceará, Camilo orientou os mandatários municipais sobre as estratégias para o segundo turno. Ele fez um apelo para que os prefeitos disponibilizem transporte gratuito para os eleitores e ainda pediu para que as lideranças municipais combatam a desinformação. O pedido foi reforçado pelo governador eleito, Elmano de Freitas (PT), e pela atual governadora, Izolda Cela (sem partido).

Para a professora Monalisa Torres, assim como ocorre com o apoio ao Bolsonaro, é preciso avaliar a forma como os mandatários estão se empenhando na campanha. “Com o resultado da disputa pelo Governo do Ceará, percebi que a campanha deu uma esfriada no Interior. Ainda há mobilização, adesivaço, mas é um clima muito diferente do que foi no primeiro turno (...) Outra coisa a se pensar é até que ponto esses apoios estão mobilizando vereadores e cabos eleitorais para pedir votos”, avalia.

Prefeito de Forquilha, Edinardo Rodrigues (PDT) destaca o papel de Cid Gomes como articulador da campanha em prol do ex-presidente Lula. 

“O senador tem feito um brilhante trabalho juntando todo mundo e pedindo apoio para que possamos facilitar o acesso da população no dia da votação (...) Não podemos seguir com essa briga ferrenha dividindo o país. Tenho certeza que a população do Ceará vai dar a resposta que sempre deu nas urnas, com coerência”
Edinardo Rodrigues (PDT)
Prefeito de Forquilha

Correligionário de Lula, o prefeito de Potengi, Edson Veriato (PT), diz que a aposta do lado petista é conquistar votos indecisos e reduzir as abstenções na reta final.

“Estamos mobilizando a turma igual no primeiro turno, com distribuição de material e, naturalmente, divulgando nossas propostas (...) Nossa busca é pelos indecisos, também vamos organizar transporte gratuito para fazer com que o eleitor possa votar no segundo turno, é uma eleição histórica”.
Edson Veriato (PT)
Prefeito de Potengi

Assim como os aliados de Bolsonaro, os aliados de Lula no Ceará têm intensificado a programação de agendas no Interior, com carreatas lideradas por Camilo Santana e pelo governador eleito Elmano de Freitas (PT). O grupo também tem conquistado apoio de prefeitos que comandam cidades estratégicas, como Caucaia, com apoio de Vitor Valim (Pros), e Icó, com a prefeita Laís Nunes (PDT).