O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se pronunciou, na noite deste domingo (30), por volta das 21 horas, logo após ser anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como matematicamente escolhido. Seu discurso focou em restaurar a democracia brasileira e retomar a união entre as famílias e os "divergentes".
"Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade. [...] A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra", afirmou Lula.
No entanto, o discurso conciliatório não impediu o presidente eleito de relembrar a perseguição política que disse ter enfrentado nos últimos anos.
Me considero um cidadão que teve um processo de ressurreição na política brasileira. Tentaram me enterrar vivo, mas eu estou aqui".
'Não existem dois Brasis'
Eleito com 50,9% dos votos, contra 49,1% obtidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula agradeceu a ida dos eleitores às urnas e afirmou que governará para 215 milhões de brasileiros, independentemente de posicionamento político e de religião.
"A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo", entende o presidente eleito.
Em ataque direto ao seu adversário, Bolsonaro, o petista disse, ainda, que "é hora de abaixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas". "Armas matam e nós escolhemos a vida", completou.
Ele também destacou que a prioridade do seu terceiro mandato à frente do Governo Federal será a de combater a fome e fazer a "roda da economia girar novamente". "Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças não tenham o que comer ou que consumam menos proteínas e calorias do que o necessário", comentou.
Ainda, disse que irá confrontar o preconceito e fortalecer o combate à violência contra mulher. "Enfrentar o racismo, o preconceito, a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Só assim seremos capazes de construir um Brasil de todos, um Brasil com paz, democracia e oportunidade".
Relação com o Legislativo e o Judiciário
Os quatro anos de Bolsonaro como presidente da República marcam o estremecimento das relações entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Em seu pronunciamento, que ressaltou várias vezes a retomada da democracia, Lula assegurou que irá reaver o diálogo com o Judiciário e com o Legislativo, "sem tentativa de controlar".
"A normalidade da democracia está consagrada na Constituição [Federal]", afirmou. Depois, alfinetando mais uma vez Bolsonaro, acrescentou: "As grandes decisões políticas que impactam a vida de 200 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo".
Recuperar prioridades da gestão petista
O combate às mudanças climáticas, a defesa da Amazônia e a redução do desmatamento são pautas que, de acordo com o petista, também devem ser prioridade da gestão nos próximos quatro anos.
"O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática. [...] Vamos provar que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente", garantiu.
Além disso, o presidente eleito mencionou a recuperação de programas federais de cultura, inclusão social e habitação. Também disse que irá estimular a economia apoiando micro e pequenos empreendedores e explorando o "extraordinário potencial criativo" dos empresários.
Nas minhas viagens internacionais e nos contatos que tenho mantido, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil. Hoje, nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta".
Vitória
A vitória de Lula foi confirmada pelo TSE por volta de 19h57, quando 98,81% das urnas já tinham sido apuradas. Lula, naquele momento, tinha 50,83% dos votos válidos e não poderia mais ser alcançado por Bolsonaro, naquela altura, com 49,17% de votos válidos.
"Foi a campanha de um conjunto de pessoas que amam a liberdade e a democracia contra o autoritarismo em qualquer momento da história", disse o presidente eleito.
Ele também comentou que deve tirar dois dias de folga antes de começar o processo de transição governamental e adiantou que governará junto aos novos aliados. "Tenho dois meses para montar um Governo, conhecer a máquina como está. Preciso escolher bem cada pessoa que vai participar da nova democratização do nosso País".