A continuidade do vereador Carlos Mesquita (PDT) na liderança do prefeito José Sarto (PDT) na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) segue como uma incógnita uma semana depois do anúncio do pedido de saída, feito pelo próprio gestor na última segunda-feira (20).
Na ocasião, o chefe do Executivo da Capital informou que o colega de partido pediu para sair por se sentir "sobrecarregado com a carga política". "Ele não foi destituído, ele pediu para sair. Eu devo ter uma conversa com ele hoje ainda, não sei se vai dar tempo porque nós estamos com a agenda um pouquinho complicada, mas nós não definimos, não houve destituição", alegou.
A despedida da função estratégica não foi formalizada de prontidão. O intuito de Sarto, pelo que ele disse no dia em que anunciou a solicitação, seria conversar com o líder governista sobre os rumos da estratégia política na Casa Legislativa.
Inicialmente, uma conversa teria sido marcada para o dia seguinte, terça-feira (21), mas na quarta-feira (22) nenhuma definição foi divulgada, tanto pelo parlamentar quanto pelo prefeito. Questionado sobre o assunto na quarta, Mesquita indicou que ainda teria outro encontro para que pudesse definir seu futuro na Câmara.
Na sexta-feira (24), fontes ligadas ao PDT afirmaram que o martelo não havia sido batido. Assim, por ora, o líder estaria mantido e aguardaria uma segunda ordem do mandatário. A permanência na base, entretanto, seria uma certeza, mesmo com a retirada dele da atribuição.
Nesta segunda-feira (27), outros interlocutores alegaram que ainda não havia nenhum diálogo de forma decisiva. No entanto, tratativas com nomes cotados para a vaga chegaram a ser ensaiadas pelo prefeito. Por incompatibilidade na agenda, elas não puderam ser realizadas ainda. Nos bastidores, surgem como prováveis substitutos os vereadores Márcio Martins (SD) e Iraguassu Filho (PDT).
Fala polêmica
Carlos Mesquita se envolveu em uma polêmica que gerou uma crise para a gestão municipal e colocou sua liderança em questão graças a uma fala controversa. No último dia 9 de novembro, o político usou a tribuna do Plenário Fausto Arruda para rebater uma fala da vereadora Ana Paula (PDT), que criticava a assistência oncológica prestada pelo Município através do convênio com o Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio).
"A Prefeitura de Fortaleza sempre arcou com a verba de oncologia lá no Crio. O Estado nunca deu nada. E se tem esse interesse em defender o Estado, vá lá para que ele volte a pagar o que nunca pagou. Nunca pagou nada. Nunca tirou dos cofres do Estado", rebateu.
No pronunciamento, feito durante a sessão legislativa, ele alegou que houve um corte proposital da Prefeitura de Fortaleza nos repasses feitos para o equipamento de saúde. O objetivo, justificou, seria pressionar o Governo do Estado a também contribuir com o financiamento dos serviços ofertados na unidade.
"A prefeitura arcava com tudo, aí o corte que dizem que o Município fez, foi proposital, para ver se o Estado se mancava e pagava a parte dele. E não teve esse 'semancol' e não pagou. Mesmo com esse apelo e com essas falas aqui, o Estado não pagou. Então, o que o Município, com Sarto, fez há poucos dias? Foi lá aditar o contrato para pagar o que o Estado não estava pagando", disparou.
Na exposição que antecedeu a fala da liderança, Ana Paula ressaltou que houve a suspensão de R$ 7,5 milhões na quantia que era destinada ao Crio. E que, mesmo após um aditivo realizado pela administração municipal, restava um déficit financeiro de R$ 4,5 milhões.
O represamento não foi confirmado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) nas duas oportunidades em que foi procurada para se manifestar sobre a temática. Questionada pelo Diário do Nordeste sobre os montantes investidos e o déficit alegado pelos opositores, a pasta se ateve a detalhar o volume direcionado para o tratamento de câncer em toda a rede municipal.
"A Prefeitura de Fortaleza tem custo anual de R$ 133,8 milhões com o tratamento de pacientes com câncer. No último mês, o município ampliou em R$ 3,6 milhões o repasse anual para o Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio). Atualmente, 60% dos pacientes oncológicos atendidos na rede conveniada pelo município de Fortaleza são do interior. Esses tratamentos são financiados com recursos da Prefeitura de Fortaleza e do Governo Federal", disse o órgão em ambos os episódios.
Pedido de CPI
A fala do líder repercutiu mal na imprensa e entre os colegas de plenário. O grupo de oposição passou a mobilizar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os repasses do Governo Municipal para o tratamento oncológico na Capital.
Segundo o vereador Léo Couto (PSB), que organiza a coleta de assinaturas, as declarações são graves e a ação governamental precisa ser investigada. "Nós tivemos afirmações do líder do governo, onde ele, a meu ver, fala com o prefeito, articula ações, as matérias que vem para a Casa. Foram afirmações graves, onde pessoas da oncologia da nossa cidade estão morrendo, estão deixando de ter atendimento nesta doença que é terrível", argumentou.
Caso o pleito reúna 15 subscrições e o colegiado seja realmente instalado, afirmou o propositor, os parlamentares que irão participar dele terão como trabalho inicial a análise do envio de montantes pela União para o Fundo Municipal de Saúde.
Nova fala polêmica
Durante a sessão da última quarta-feira (22), uma nova declaração de Carlos Mesquita foi alvo de críticas. Ele voltou a usar a tribuna para falar sobre o Crio, desta vez repercutindo a crise gerada pelo pronunciamento anterior, e chamou os membros da bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) de "babacas".
"Ei pessoal da Assembleia, Larissa (Gaspar) e companhia limitada! O Sarto é prefeito, babacas, não tem obrigação com a oncologia como era para ser", disse, se dirigindo para as câmeras que fazem a transmissão ao vivo no canal oficial do Legislativo municipal.
Em resposta ao ocorrido, o diretório municipal do PT de Fortaleza divulgou uma nota de repúdio contra o vereador. No comunicado, a agremiação rechaça uma fala do político, que ofendeu a deputada estadual Larissa Gaspar (PT) e os demais integrantes do bloco partidário.
"Afora a falta de conhecimento com relação às obrigações da Prefeitura quanto ao repasse dos recursos para o tratamento daqueles e daquelas que têm câncer, a ânsia de defender o prefeito Sarto se reveste em insulto da mais baixa qualificação, para desprezar e debochar de parlamentares que cobraram explicações sobre a declaração do referido vereador", criticou o partido em um trecho do texto.
O PT apontou que a suspensão de repasses alegada anteriormente se configuraria como um crime de improbidade e que a declaração recente representa uma "covardia misógina", pois usa "deliberadamente" o nome da parlamentar para direcionar tal exposição.
O órgão partidário cobrou ainda providências da Câmara Municipal com relação ao que considera um "ataque frontal de um parlamentar aos deputados e deputadas estaduais". Quando do episódio, a coordenadoria de comunicação da CMFor foi provocada pela reportagem, que buscou saber quais providências seriam tomadas. O departamento não deu nenhuma devolutiva desde então.