PDT contraria bandeira histórica e vai contra voto impresso por “politização exacerbada”

Mecanismo era defendido pelo fundador da sigla, Leonel Brizola, na década de 1980

Com 18 votos contrários, seis favoráveis e uma abstenção, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) se posicionou majoritariamente para derrubar a proposta de voto impresso defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e analisada ontem (10) pela Câmara dos Deputados.

Mesmo sendo uma bandeira defendida por lideranças da legenda em outros momentos, foram os votos favoráveis que acabaram contrariando o comando nacional da sigla, que orientou por “unanimidade” a derrubada da PEC. 

No final de maio, o presidente do partido, Carlos Lupi, criou polêmica ao aparentemente fazer coro com o presidente da República, defendendo a impressão do voto computado na urna eletrônica, para fins de maior confiabilidade na apuração. 

“Sem a impressão do voto, não há possibilidade de recontagem. Sem a recontagem, a fraude impera”, escreveu Lupi nas redes sociais. 

Mais recentemente, no entanto, ele demonstrou outro posicionamento, quando, por exemplo, criticou o desfile de tanques do Exército na Esplanada dos Ministérios. Na segunda-feira (9), véspera da votação, Lupi usou sua conta no Twitter para repudiar o ato.

“No dia em que a sociedade precisa se reunir para dizer não ao voto impresso, Bolsonaro convoca desfile de militares com tanques de guerra na Esplanada. O PDT abrirá ação no Ministério Público. Não aceitaremos qualquer ameaça!”, protestou. 

Mudança de postura

Um dos vice-líderes do partido na Câmara, o deputado cearense André Figueiredo criticou a “polarização” e a “politização” do tema por parte do presidente Jair Bolsonaro e defendeu a posição do presidente do partido a respeito do assunto.

“Ele defendeu em outro momento, como eu também defendi, mas tanto a politização exacerbada, como o confronto com outros poderes, como o modelo que foi proposto, de ser contagem de todas as seções eleitorais (e não pela amostragem de 2% defendida pelo PDT), a gente não podia aceitar isso, porque isso favorece, além do atraso na apuração, uma possibilidade de fraude muito grande”
André Figueiredo
Presidente do PDT Ceará

Mesmo com a orientação do partido pelo voto contrário, André descartou possível punição aos deputados que votaram a favor da PEC. Segundo ele, a questão vai ser resolvida internamente. 

“Já estamos superando. Nunca houve fechamento de questão. Isso é questão superada”, minimizou o deputado, que afirmou que lideranças do partido vão se reunir nesta semana para discutir essa e outras “várias questões conjunturais”. 

"Unanimidade"

Mesmo internamente, o assunto deve reverberar entre lideranças e representantes do partido na Câmara. No Plenário, a orientação do voto, por parte do líder da bancada, Wolney Queiroz, parecia não abrir espaço para divergências. O deputado pediu “unanimidade” de votos contra, segundo ele “em consonância com a direção nacional do partido”. 

“O PDT não será conivente com essa tentativa de desestabilizar a democracia. Não seremos cúmplices de nenhuma manobra diversionista que visa apenas criar uma cortina de fumaça para esconder as mazelas do Brasil atual. Não vamos ajudar a criar a narrativa para que Bolsonaro e sua horda possam questionar os resultados das eleições no ano que vem” disse o parlamentar pernambucano. 

Wolney resgatou o início das discussões dentro do partido sobre confiabilidade das apurações, iniciadas por Leonel Brizola. 

“Ele disputou uma eleição para governador do Rio de Janeiro com o Moreira Franco, e o pai do ex-presidente Rodrigo Maia, César Maia, detectou uma fraude no sistema de totalização naquela campanha, e isso virou um escândalo. O Brizola não colocava em xeque a questão da urna eletrônica, o Brizola citava isso com o exemplo da época da totalização dos votos em 1982, há quase 40 anos”, explicou. 

Divergências também no PSB 

Com 11 votos favoráveis, 17 contrários e três abstenções, o PSB foi outro partido de oposição a Bolsonaro que também surpreendeu pela divisão de sua bancada, mesmo com orientação pelo voto contra. 

Presidente estadual da sigla no Ceará, Denis Bezerra minimizou as discordâncias internas. “É natural que em todo partido haja divergências, essa construção de várias ideias é que leva adiante para as decisões finais”, afirmou.

Mesmo não tendo participado das discussões entre as lideranças, já que só amanhã (12) retoma o mandato na Câmara Federal após licença de 120 dias, o deputado vinha se posicionando sobre o assunto.

“O meu posicionamento seria contrário à aprovação do jeito que foi definido ontem. O processo eleitoral que a gente tem está funcionando há mais de 20 anos no País, já é comprovadamente auditável, sem indícios de fraudes" 
Denis Bezerra
Presidente do PSB Ceará

O deputado Odorico Monteiro, que ocupou a cadeira de Denis durante os quatro meses de licença, manteve a mesma posição. “É perder tempo (discutir voto impresso). É um presidente da República que não se sentou um dia na cadeira de presidente. É o tempo todo fazendo arruaça e querendo fazer arruaça contra esse Congresso. Por isso, nós entendemos que tem mais coisa pra discutir e debater. Voto impresso não”, disse o pessebista ao orientar o voto dos correligionários.