O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse, em entrevista exclusiva ao PontoPoder, nesta quinta-feira (22), que se "preocupa" com "o monopólio de poder" que o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), "está querendo montar no Ceará". Ciro disse ainda que o ex-governador "está com todos os cargos" no Governo do Ceará para realizar "conchavos políticos".
Apadrinhado por Ciro quando concorreu ao cargo de governador do Ceará, em 2014, Camilo Santana rompeu com o ex-ministro durante a campanha eleitoral de 2022. Os dois estiveram em lados opostos tanto em nível estadual como nacional. Racha semelhante havia ocorrido em 2012 quando, na disputa pela Prefeitura de Fortaleza, o irmão de Ciro, o então governador Cid Gomes, insistiu em candidatura própria de seu grupo político contra o PT.
Influência no Ceará
Ele acusou o ministro da Educação de estar "com todos os cargos do estado do Ceará". “E mais de 15 secretarias criadas, tudo para fazer conchavo político. O Estado está loteado como, desde os anos 1980, nós não assistíamos", disse.
Ao falar sobre o governador Elmano de Freitas, ele disse se tratar de "uma boa pessoa". "Agora, ele recebeu um Estado em que ele não manda. Quem dá as cartas e resolve o problema, quem anda nos aviões no Estado hoje é o Camilo, é a Janaína Farias (suplente de senadora e assessora especial do Ministério da Educação)", disse.
Ao falar sobre o "monopólio" que Camilo supostamente tenta implementar no Ceará, Ciro citou suposta pressão feita pelo ministro da Educação em desembargadores que julgam a ação contra a Taxa do Lixo em Fortaleza.
Veja a entrevista completa:
"Eu recebi declarações de desembargador dizendo que a pressão estava impossível. Constranger um desembargador, isso é pequeno, porque o (José) Sarto (prefeito de Fortaleza), que era um grande amigo, agora é um adversário", disse.
Contudo, Ciro afirmou que não quer mais se envolver na política do Ceará, devido a "decepção" com os últimos resultados no estado.
"Aqui, no Ceará, se eu puder, eu não quero me meter em mais nada, porque aqui a decepção é muito mais profunda do que o que aconteceu no Brasil, que o Ceará me conhece. (...) E ver a demagogia e a traição serem premiadas com tanta generosidade por esse povo a quem eu dei minha vida, é muito duro".
O ex-ministro disse ainda que, no Ceará, teria sido Camilo quem "criou essa versão negativa dos Ferreira Gomes".
'Foi na minha casa dizer que ia sair do PT'
Candidato à presidência da República, Ciro Gomes afirmou que Camilo nunca o avisou de que não iria apoiá-lo na disputa contra o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Eu não recebi um telefonema do ex-governador Camilo Santana para dizer: 'olha: eu não vou poder lhe apoiar e tal'. Eu fiquei sabendo pela imprensa que ele estava lá. E ele é um cara que tinha dito que ia sair do PT quando Lula foi preso. O Camilo Santana foi na minha casa me dizer que ia sair do PT, porque o Lula tinha sido preso e ele queria sair de perto do Lula".
Segundo Ciro, ele próprio aconselhou Camilo a não tomar essa decisão: "você vai ser visto como um rato fugindo do navio que está afundando, fica quieto".
O Diário do Nordeste entrou em contato com as assessorias de imprensa do Ministério da Educação, do Governo do Ceará e do Tribunal de Justiça do Estado a respeito das críticas feitas por Ciro Gomes. Quando houver resposta, a matéria será atualizada.