Entenda como são feitas as pesquisas eleitorais

O instituto Quaest fará as pesquisas contratadas pela TV Verdes Mares na campanha eleitoral de 2024 em Fortaleza

Foco de atenção dos eleitores e candidatos durante a campanha, as pesquisas eleitorais são o retrato de um momento das eleições. Contudo, as metodologias, os dados e a própria intenção de uma pesquisa eleitoral despertam dúvidas em parte dos eleitores. Como uma pesquisa com mil pessoas estima a votação de uma cidade inteira? Onde são feitas as pesquisas, já que nunca fui entrevistado? Por que os resultados das urnas nem sempre são iguais aos das pesquisas? Esses são alguns questionamentos que se multiplicam à medida que o pleito eleitoral se aproxima, a cada dois anos. 

Na prática, o que os institutos de pesquisa fazem é medir, ao longo da campanha eleitoral, as diferentes temperaturas da disputa, portanto, cada pesquisa é como uma fotografia de um momento, de tendências que deságuam nas urnas. Os dados também revelam o perfil dos entrevistados, a rejeição de um candidato e a avaliação de governos, que também reforçam as avaliações sobre o sentimento da população que irá às urnas.

De cara, isso já explica porque as pesquisas não se propõem a cravar o resultado das urnas, mas sim a mostrar a tendência do eleitorado. "A gente mede a temperatura da eleição para identificar padrões, antecipar movimentos que estão acontecendo na opinião pública, para que o eleitor consiga, a partir dessas ondas, desses movimentos, da evolução da temperatura, decidir o que ele acha que é melhor para cidade dele, para a família dele, para ele mesmo", explica Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria.

O instituto foi contratado pela TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo, para fazer a pesquisa eleitoral sobre as intenções de voto em Fortaleza neste ano.

As pesquisas eleitorais adotam metodologia científica. O primeiro passo é a definição dos entrevistados. Como não é possível consultar todos os eleitores — já que isso é a própria eleição —, os institutos adotam critérios estatísticos para selecionar um grupo de pessoas — chamado de amostra — que represente segmentos da população. Essas características, selecionadas com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluem sexo, idade, escolaridade e renda.

“Para garantir que todos os perfis que existem no eleitorado brasileiro estejam representados na amostra, a gente passou a incorporar informações de eleições anteriores, do comportamento das pessoas em outros pleitos, para também enriquecer o trabalho de desenho e planejamento dessas amostras. Essa é uma inovação que nos parece muito relevante, tem sido adotada em outros países que passaram por processos de polarização e de debate político como os que temos vividos nos últimos anos”
Felipe Nunes
Diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria

É todo esse embasamento científico que diferencia as pesquisas eleitorais das enquetes online, que normalmente se proliferam durante esse período eleitoral.

"Em uma enquete, faz-se perguntas para o eleitorado sem nenhum tipo de metodologia ou rigor de como as pessoas vão ser selecionadas para participar. No caso da pesquisa, há todo um planejamento amostral para que a gente seja capaz de representar no estudo todos os conjuntos de preferências, interesses, valores, classes, segmentos sociais para que o resultado final seja representativo da opinião, do sentimento do eleitorado naquele momento”, acrescenta Felipe Nunes.

"É preciso ter muito cuidado para que essas estimativas que serão apresentadas não sejam usadas como previsão do futuro, como se tivéssemos tentando adivinhar o que vem pela frente, porque, no fim das contas, é o eleitor que definir na urna o que ele acha que é o mais importante para vida dele, para a cidade dele”
Felipe Nunes
Diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria

Metodologia

Como os pesquisadores chegam até os entrevistados? No caso da Quaest, a pesquisa é feita de forma domiciliar. Os entrevistadores dos institutos vão até a residência de eleitores escolhidos aleatoriamente, atendendo às proporções de segmentos sociais definidos na amostra. 

Conforme Felipe Nunes, a metodologia adotada pela Quaest também passou a considerar os altos índices de abstenções registrados no Brasil nos últimos pleitos. Em Fortaleza, o primeiro turno da eleição municipal de 2020 registrou 21% de abstenção, a maior em mais de duas décadas. No segundo turno, um novo recorde, com 22,7%.

Agora, o questionário aplicado aos eleitores inclui também perguntas que indicam se o entrevistado está determinado a votar no dia do pleito.

"Passamos a incorporar, desde 2022, um modelo estatístico que ajusta a pesquisa justamente à probabilidade dos eleitores irem ou não irem votar no dia da eleição. Esses modelos foram trazidos de estudos feitos nos Estados Unidos onde o voto não é obrigatório” 
Felipe Nunes
Diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria

As pesquisas consideram ainda a margem de erro, que é calculada por meio de uma fórmula matemática. Quanto maior a amostra, menor esse índice. Por exemplo, caso 500 eleitores sejam entrevistados, a margem é maior que uma pesquisa com 1,2 mil entrevistas. Do ponto de vista estatístico, porém, não há necessidade da amostra ser muito grande para se aproximar da quantidade populacional total, já que a coleta poderia ser muito dispendiosa, demorada ou poderia levar a um processo destrutivo das informações. Uma amostragem segura é suficiente para garantir uma realidade sólida para os dados. 

Assim, os institutos incluem uma margem de segurança mesmo depois de utilizar todos os critérios científicos para escolher os entrevistados. Em uma pesquisa com margem de erro de três pontos, por exemplo, um candidato que tirou 10% das intenções de votos está em um intervalo que vai de 7% a 13%.

"A margem de erro é a segurança que o eleitor tem de que aquela informação foi calculada de forma técnica e científica", aponta o diretor da Quaest.

Os cálculos estatísticos também definem o nível de confiança da pesquisa, que no caso da Quaest é de 95%. Ou seja, caso a pesquisa seja repetida 100 vezes, em 95 o resultado estará dentro da margem de erro.

“Pesquisa é o principal instrumento para democratizar a informação em um processo eleitoral. Sem elas, apenas os partidos e as lideranças políticas teriam acesso às informações sobre a competitividade, sobre o que está acontecendo no jogo eleitoral”, afirma Nunes.