Quatro militares de altas patentes do Exército Brasileiro e um policial federal foram presos nesta terça-feira (19) na Operação Contragolpe da Polícia Federal (PF) que apura uma tentativa de golpe de Estado no País. Pelo menos um dos investigados tinha relação direta com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Esse golpe seria consumado com os assassinatos dos então eleitos para a presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) e o “sequestro ou homicídio” do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, à época presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Conforme informações divulgadas pela CNN Brasil, pelo menos um dos militares, o general da reserva Mário Fernandes, era ex-assessor de Bolsonaro. Ele ainda foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República no mandato do ex-presidente.
Organizar e executar
Coube a Fernandes, segundo o relatório da PF, organizar e arrumar, em tópicos, o que a operação chamou de planejamento das “operações clandestinas”, bem como os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes.
O documento estava em um arquivo de Word, denominado inicialmente como “Fox_2017.docx”. Depois passou a ser intitulado como “Punhal Verde e Amarelo”.
Inicialmente intitulado “Fox_2017.docx”, o arquivo em Word detalhava a ação e, posteriormente, foi alterado para “Punhal Verde e Amarelo”. Bolsonaro e Fernandes estiveram no mesmo ambiente pelo menos duas vezes, nos momentos em que o golpe de Estado era planejado.
Em 6 de dezembro de 2022, o general e o ex-presidente estavam no Palácio do Planalto quando era impresso o documento “Punhal Verde”.
“O secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general Mário Fernandes imprimiu o documento “Plj.docx” (18h09min), possivelmente relacionado ao planejamento operacional da ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes e assassinar o presidente e vice-presidente eleitos Lula e Geraldo Alckmin”, diz a PF.
“O então presidente da República Jair Bolsonaro também estava no Palácio do Planalto. No mesmo período, verificou-se também a presença concomitante, na região do palácio do Planalto, de Mauro Cid e Rafael de Oliveira“, completa a investigação no documento.
Apenas dois dias depois, em 8 de dezembro de 2022, Fernandes esteve por 40 minutos no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República e ocupada na ocasião por Jair Bolsonaro. A PF afirma que, nesse dia, o general indicou ter conversado com o ex-presidente.
Prisão de Moraes, minuta do golpe e anulação das eleições
O monitoramento do ministro do STF casa com a minuta do golpe, descoberta após os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Segundo a PF, com o documento que iria decretar Estado de Defesa no TSE (à época presidido por Moraes), seria determinada também a prisão de Alexandre de Moraes.
“Nesse sentido, era relevante para os investigados monitorarem o ministro para executarem a pretendida ordem de prisão, em caso de consumação do golpe de Estado”, avalia a investigação.
Com a prisão de ministros do STF, a começar por Moraes, o objetivo era anular as eleições, uma vez que Lula e Alckmin estariam assassinados.
O documento identificado trata-se de um planejamento estratégico, que tinha como objetivo final um golpe de Estado, visando anular o pleito presidencial de 2022, com fundamento na falsa narrativa disseminada pela organização criminosa de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação, com o objetivo de manter o então presidente da República, Jair Bolsonaro, no poder.
“Para isso, as ações ainda suprimiriam o livre exercício da cúpula do poder Judiciário, mediante a prisão de ministros do STF e de agentes públicos que cumprissem suas ordens judiciais”, acrescenta a PF.
A investigação também concluiu o general Mário Fernandes era o “ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas” que se aglomeraram na frente dos quartéis pelo País pedindo intervenção militar. Vale lembrar que o ex-presidente não é investigado na ação.