Eleições em Fortaleza: Capital vive sua 17ª disputa com voto direto em quase três séculos

Ditaduras no País interromperam realizações de eleições com voto popular na Capital e em outras cidades

Apesar de já ter 298 anos desde que foi alçada de povoado à vila, em 1726, Fortaleza acumula poucas eleições pelo voto direto. O pleito de 2024, inclusive, é o 17º em que o povo da Capital do Ceará pode ir às urnas escolher seu representante político para administrar a Cidade. 

O primeiro prefeito da Capital eleito pelo voto popular foi Raimundo de Alencar Araripe, em 1936. Logo após o primeiro sufrágio, houve um interstício imposto por Getúlio Vargas com a ditadura do Estado Novo (1937-1945) — o que interrompeu a continuidade de eleições diretas.  

Com o regime totalitarista, Raimundo de Alencar continuou no comando da Cidade, mas não devido à escolha do eleitor, e sim porque Vargas decidiu o transformar em interventor municipal, como explica o doutor em História Social e ex-vice-governador do Ceará, professor Pinheiro. 

"Na ditadura Vargas, os governadores e prefeitos eram indicados pelo Governo Central, eram os interventores. E Vargas o manteve (Raimundo Alencar Araripe)", explica. 

Com o fim do Estado Novo em 1945, outros prefeitos foram nomeados para administrar Fortaleza durante a Quarta República (1945-1964), mas uma nova eleição direta só foi realizada em 1947. 

Interrupções 

O hiato sem eleições direta durou, ao todo, nove anos. Em 1947, a população da Capital voltou a escolher um prefeito, no caso, escolheram Acrísio Moreira da Rocha, ex-interventor do Estado. Em 1950, o eleito foi Paulo Cabral de Araújo. Em 1954, Acrísio Moreira da Rocha voltou à Prefeitura de Fortaleza novamente pelo voto popular. No pleito seguinte, em 1962, o escolhido pelo povo foi Murilo Borges. Ele foi o último prefeito da Capital escolhido pelo voto popular antes da ditadura militar. 

Professor Pinheiro explica que o baixo número de votações diretas realizadas em Fortaleza deve-se ao histórico do histórico político brasileiro, que teve o regime democrático interrompido por mais de uma vez por regimes ditatoriais. 

"A gente tem que levar em conta todo esse período de excepcionalidade na política brasileira, que não é algo incomum, infelizmente. Teve a ditadura de Vagas, depois você tem um período curto de redemocratização e, em seguida, um novo período ditatorial. E com a ditadura militar de 1964, houve um longo período em que os prefeitos foram indicados pelos militares, os interventores" 
Professor Pinheiro
Historiador

Redemocratização 

Depois da ditadura militar, um gestor da Capital só voltou a ser eleito em 1985, com a redemocratização do Brasil. Fortaleza, inclusive, iniciou o período de redemocratização fazendo história ao eleger a primeira mulher para comandar uma capital do País, e por voto popular: a professora universitária e ativista Maria Luiza Fontenele, pelo PT. 

Desde então, eleições diretas não foram mais interrompidas e, agora, a Capital chega a sua 17ª edição.