Ciro fez política com o 'fígado' e Roberto Cláudio 'achou que o céu era perto', diz Cid sobre 2022

Aliado de Camilo, o senador tem defendido aproximação do PDT com o governador Elmano de Freitas

Passadas as eleições, enquanto seguem as tratativas sobre a posição do PDT Ceará em relação ao governo Elmano de Freitas (PT), o senador Cid Gomes (PDT) revelou mais abertamente as suas percepções sobre o processo que culminou no rompimento entre as duas legendas em âmbito estadual, no ano passado.

Para ele, o irmão Ciro Gomes (PDT), presidenciável no último pleito, e Roberto Cláudio (PDT), ex-prefeito de Fortaleza e candidato ao governo local, precipitaram-se.

"Houve essa coisa: um misto de o Ciro fazer política com o fígado e o Roberto Cláudio, acho, exagerou na sua ambição. É natural que ele queira governar o Estado, foi um grande prefeito de Fortaleza, mas ele exagerou, achou que o céu era perto, e eu via claramente que não", avalia o senador, em episódio do podcast cearense "As Cunhãs", divulgado nesta terça-feira (28).

Ele lembra que, na pré-campanha, o PDT lançou quatro pré-candidatos – entre eles, Roberto Cláudio e a ex-governadora Izolda Cela (atualmente sem partido) – e os agora ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e presidente Lula (PT) apoiaram a investida da segunda. 

"A gente (Cid e Camilo) estava construindo a manutenção de uma aliança PT-PDT apoiando uma candidata do PDT, você quer mais do que isso? O Camilo era um governador muito popular, o Lula é ultra popular, os dois dispostos a apoiar um candidato do PDT, e você achar que eles manifestarem uma preferência entre os quatro nomes que o próprio PDT colocou seria uma intromissão partidária, eu não acho que seja", completou.

Cid, como um forte articulador do seu grupo político, preferiu se ausentar da campanha eleitoral após a decisão do diretório estadual do PDT por seguir com Roberto para a disputa, o que considerou "um tiro no pé, uma vitória de Pirro". Fez isso, disse o senador, para não brigar com o irmão, que investiu até o fim na candidatura do ex-prefeito.

"O meu comportamento foi de avestruz: diante do perigo, afunda a cabeça do buraco e acha que se livrou do perigo, mas o perigo estava lá. Mas o que eu faria, ia brigar com o Ciro? Eu optei por isso (se ausentar)", explicou.

Diálogo

Apesar dos desgastes, Cid defende o restabelecimento da relação próxima com o grupo petista, que, hoje, comanda o Estado, independente da posição que o PDT decida adotar em relação à nova gestão. Ele diz que procura fazer um trabalho de mediação, mas "o ânimo em alguns setores do PDT continua beligerante".

Não bastou fazer o que fizeram, continuam querendo briga, infelizmente. Eu espero que o tempo cure esse ódio, ninguém pode fazer política desse jeito. Não é possível que não lembrem, também, a importância, o PT era meu aliado desde Sobral. E o Ciro, quando era governador, procurou muito uma aliança com o PT do Ceará, insistentemente. Ele tem umas queixas no plano nacional, mas nós aqui no Ceará não temos razão para ter queixa do PT até o momento, não
Cid Gomes (PDT)
Senador

"Mas eu repito: no que depender de mim, vou procurar restabelecer, está sendo feita aos poucos a nossa relação com o PT aqui no Ceará e o futuro a deus pertence", afirma. Quanto à sua relação em família com Ciro, após os embates partidários, o senador preferiu a discrição.

O irmão, acredita ele, deve seguir em oposição ao PT a nível nacional, postura que adotou nos últimos anos, diferente do partido, que compõe o governo federal. Também aposta ser "razoável" que se espere para verificar o desempenho do mandato de Lula a fim de se tomar alguma posição, o que pode influenciar a decisão de Ciro.

O Diário do Nordeste entrou em contato com as assessorias de imprensa de Ciro Gomes e Roberto Cláudio para comentar o assunto e aguarda retorno.