Candidato à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) disse que não solicitou nem autorizou a interpretação do hino nacional em linguagem neutra, realizado no último sábado (24), em um comício dele na cidade de São Paulo. O político apagou o vídeo em que aparecia, ao lado do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cantando a versão da canção.
Na ocasião, a intérprete cantou "verás que es filhes teus não fogem à luta", em vez de "os filhos", conforme a versão tradicional. No evento, que foi transmitido pelo YouTube do candidato, a cantora Yurungai também entoou "des files deste solo és mãe gentil", em vez de "dos filhos deste solo és mãe gentil". O vídeo foi tirado do ar na manhã dessa terça-feira (27), após a repercussão negativa nas redes sociais.
Em nota, a equipe dele explicou que a responsabilidade pela contratação dos profissionais que trabalharam no evento, incluindo o convite para a intérprete do hino, foi da produtora que organizou o comício.
“A campanha, em momento algum, solicitou ou autorizou alteração na letra do Hino Nacional interpretado na abertura do comício no último sábado, 24, na Zona Sul da cidade. A produtora, organizadora do evento, foi responsável pela contratação de todos os profissionais que trabalharam para a realização da atividade, incluindo a seleção e o convite à intérprete que cantou o Hino Nacional”, disse a campanha do parlamentar, conforme o portal Metrópoles.
O que é linguagem neutra
A linguagem neutra é uma proposta de inclusão de pronomes e flexões nominais com gênero neutro no idioma português, com o objetivo de evitar a exclusão de pessoas com base na identidade de gênero, sexualidade ou outros aspectos de identidade.
Os defensores da linguagem neutra argumentam que os dois pronomes definidos de gênero presentes na língua portuguesa - "o" e "a", para homem e mulher, respectivamente -, não atendem a todas as pessoas falantes do idioma. Por isso, propõe a utilização da terminação "e" para palavras ambivalentes ou sem gênero intrínseco, além da inclusão da vogal como pronome definido de gênero neutro.
Também defendem que a flexão masculina do plural, com "filhos", não serve para generalizar pessoas masculinas, femininas e de outros gêneros. Mas, somente, masculinas, o que levaria à necessidade do sufixo "e" para incluir todos os indivíduos a despeito de como se identificam.
Repercussão negativa
Políticos contrários à linguagem neutra se manifestaram nas redes sociais. A economista Marina Helena (Novo), também candidata à Prefeitura de São Paulo, republicou o vídeo com trechos da apresentação do hino em que se usa o termo "filhes". "Essa é a extrema esquerda lulista que quer assumir a Prefeitura de São Paulo: lacração, desrespeito e destruição de nossos símbolos nacionais mais sagrados", escreveu.
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), que tentou concorrer ao cargo de prefeito da capital paulista, também criticou a alteração na letra. "Cantar o hino nacional dessa forma não é só vergonhoso. É crime, mas a esquerda não se importa nem de passar vergonha e nem de desrespeitar as leis brasileiras em nome da sua ideologia", afirmou, em seu perfil no X (antigo Twitter).
O ex-ministro da Cultura e deputado federal Mário Frias (PL-SP) disse, na mesma rede social, que a modificação "não é apenas uma mudança de palavras - trata-se de um desrespeito aos símbolos nacionais, à nossa cultura e à nossa língua".
Segundo a Lei nº 5.700 de 1971, "em qualquer hipótese, o hino nacional deverá ser executado integralmente e todos os presentes devem tomar atitude de respeito". A norma determina que não haja alterações na letra ou na melodia do hino nem a "execução de quaisquer arranjos vocais do hino nacional", sob pena de multa.