O deputado federal cearense Célio Studart (PSD), ex-secretário da Proteção Animal do Ceará, virou alvo de questionamentos sobre o uso de "recursos públicos" após impulsionar publicações de cunho pessoal nas redes sociais Instagram e Facebook. Desde então, o mandatário, que nega ter usado verba pública para dar mais visibilidade a suas fotos cozinhando, malhando e deitado em uma cama sem camisa, mudou os critérios para impulsionar conteúdo e voltou a intensificar os posts sobre a causa animal.
A “biscoitagem” do parlamentar foi revelada pelo Núcleo Jornalismo no último dia 23 de abril. Os dados coletados pela reportagem mostram que o principal alvo das publicações desse tipo de Studart são mulheres jovens no Instagram, com idade entre 18 e 24 anos, que vivem em Brasília — onde o parlamentar trabalha, mas longe de sua base eleitoral, no Ceará. Os dados estão disponíveis para consulta pública na Biblioteca de Anúncios da Meta. Com o recurso investido na plataforma, os usuários conseguem fazer seus anúncios chegarem a mais pessoas.
Animais de volta às redes
Ao longo dos últimos sete dias, período que coincide com a repercussão da polêmica, o parlamentar deixou de lado as publicações pessoais e passou a focar em posts sobre o caso do Joca, o cão que morreu na segunda-feira (22) após ser enviado por engano para Fortaleza pela empresa aérea Gol. O político também impulsionou outras publicações sobre maltrato a animais.
Conforme o relatório do Meta, nos últimos sete dias, o deputado cearense fez 28 anúncios, totalizando R$ 3,4 mil, todos sobre a causa animal ou sobre o mandato do parlamentar. Tanto nas publicações de cunho pessoal quanto naquelas sobre a situação dos bichos, não é possível identificar se Studart usou recursos públicos para fazer o impulsionamento.
Outra mudança significativa na gestão do perfil do deputado nos últimos dias foi o direcionamento do conteúdo. Considerando o período de janeiro a abril, o político teve metade de seus impulsionamentos destinados a usuários de Fortaleza e a mesma proporção para Brasília. Já nos últimos sete dias, 53,7% das publicações chegaram para usuários de Fortaleza. No caso da capital federal, a taxa despencou para 17,4%.
O que não mudou mesmo após a polêmica de “biscoitagem” revelada pela reportagem foi a faixa etária do público alvo de Studart. Nos últimos sete dias, todas as publicações impulsionadas pelo parlamentar chegaram a pessoas de 18 a 25 anos, e cerca de 71,7% foram para mulheres. O restante foi para “todos” os públicos, que podem incluir ou não homens. Essa tendência se repete ao longo dos últimos meses.
Em busca de visualizações
Dados mais recentes, coletados na terça-feira (30), mostram que entre 29 de janeiro e 27 de abril deste ano, Célio destinou R$ 22,2 mil em impulsionamento de conteúdo. A reportagem do Núcleo Jornalismo questionou o parlamentar sobre os recursos usados para financiar tais investimentos, ressaltando que, em 2023, ele usou da cota de gabinete para financiar anúncios que incluíam publicações de cunho pessoal.
À época, o político cearense foi o quinto deputado que mais gastou com redes sociais, totalizando R$ 50 mil só no Instagram. Em um dos anúncios, em que o deputado se exibe sem camisa, a reportagem detectou o uso de recursos públicos. No post, ele mostra a tatuagem de um cachorro no braço. "Alguns tatuam nome de namorada ou namorado. Eu prefiro apostar em um amor que sei que é incondicional! Os anjos!", diz a legenda.
A versão de Célio Studart
Procurado pela reportagem, o deputado Célio Studart, por meio de sua assessoria de imprensa, reforçou que "no período de veiculação das fotos utilizadas na matéria não houve pedido de ressarcimento da Câmara dos Deputados por impulsionamento". Ele destacou ainda que ter um post na biblioteca de anúncio da Meta "não significa que o parlamentar pediu ou vai pedir ressarcimento".
"Qualquer exposição da minha vida pessoal em minhas redes é de total liberdade minha, seja esportes, afazeres domésticos ou qualquer outro assunto". Célio Studart ainda disse que não usa carro oficial, recusou previdência parlamentar e não usa "várias das indenizações que teria direito".
“Se o problema do país fosse eu sem camisa aí tava fácil de resolver! E vou malhar mais para cuidar melhor do corpo, e comento isso a todos os desocupados também”, finalizou.
Cotão
O “cotão” é como é chamado o recurso público que pode ser usado pelos deputados para “divulgação da atividade parlamentar”, incluindo impulsionamento de conteúdo que tenha a ver com o mandato legislativo.
Conforme determinam as normas parlamentares, a verba também pode ser usada para despesas com divulgação do mandato, passagens aéreas, telefonia, serviços postais, manutenção de escritórios e assinatura de publicações. Gastos com alimentação, hospedagem, locomoção, segurança, consultoria, divulgação e participação em eventos estão incluídos.
investidos em impulsionamento de conteúdo no perfil de Célio Studart no Meta
Os parlamentares têm até três meses para prestar conta dos gastos e pedir ressarcimento. Os valores a que os deputados têm direito variam por estado (já que é calculado pelos custos de passagens aéreas). No caso do Ceará, os mandatários têm direito a R$ 48 mil mensais de cota.
Dividido entre a pré-campanha, o mandato e a secretaria
Ao Diário do Nordeste, Studart ainda reforçou que está em pré-campanha para a Prefeitura de Fortaleza. “Ele está querendo mostrar mais forte o trabalho dele”, escreveu a assessoria de imprensa em nota.
O político é um dos nomes cotados pelo PSD para disputar a prefeitura de Fortaleza. A sigla, no entanto, integra a base do Governo do Ceará, que lançará a candidatura de Evandro Leitão (PT) na Capital. O próprio deputado tem atuado como secretário da Proteção Animal (Sepa) do Governo Elmano (PT).
Criada já tendo o mandatário como primeiro comandante, a Pasta foi gerida por ele entre 21 de agosto e 10 de novembro do ano passado, totalizando 81 dias de “gestão Célio”. Ele voltou para a Sepa no dia 13 de março e ficou apenas 14 dias no cargo, sendo novamente exonerado.
Nas duas exonerações, o ex-secretário justificou que precisava cumprir compromissos do mandato: na primeira vez, a distribuição de emendas, e, na segunda, uma viagem do Encontro da Rede Parlamentar Global da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris.
Agora, Célio segue fora do cargo argumentando atendimento à legislação eleitoral, já que tem planos de ser candidato a prefeito da Capital.