Após divulgação de vídeo no qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aparece recebendo aconselhamentos sobre "tratamento precoce" do coronavírus e uso de vacinas, o presidente da CPI da Covid-19 no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que a atuação do chamado "gabinete paralelo" foi comprovada.
Imagens foram publicadas pelo portal Metrópoles nesta sexta-feira (4). Integrantes e ex-integrantes do governo negaram a existência da estrutura em depoimentos à CPI.
O gabinete foi citado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante oitiva na CPI no mês passado.
"Não se trata mais de falar que supostamente existe algo. Está comprovado. Esses ataques todos de Bolsonaro só demonstram o desespero do presidente", disse Aziz à reportagem do Estadão. "Por que você acha que o ministro (Eduardo) Pazuello disse, aquele dia, que um manda e outro obedece? Porque era assim, ele só executava ordens", disse o senador.
Críticas a vacinas
Os trechos mostram que Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, intermediava os contatos entre o grupo e o Palácio do Planalto. Na reunião, o virologista Paolo Zanotto diz que Bolsonaro deve ter "extremo cuidado" com as vacinas contra a Covid-19.
"Não tem condição de qualquer vacina estar realisticamente na fase 3", afirmou. Naquela ocasião, a Pfizer já havia encaminhado cartas sobre suas vacinas ao Brasil, sem obter respostas do governo brasileiro. "Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina, ou talvez não", disse o virologista.
Após a divulgação do vídeo, o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que pretende convocar o agora deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e o virologista Paolo Zanotto para prestarem depoimento à comissão.
REUNIÃO DO SUPOSTO GABINETE
O encontro promovido por Bolsonaro, que aconteceu em 8 de setembro de 2020, teve a participação do ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, conhecido como um dos principais defensores da cloroquina, medicação sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19.
Nas imagens da reunião, os participantes fazem uma série de críticas e ressalvas à aplicação de vacinas. Osmar Terra é citado como um "guia intelectual" do grupo, com influência direta sobre as decisões do Ministério da Saúde. Vídeo mostra Bolsonaro chamando Terra de "assessor".
Entre os participantes do encontro estão a imunologista Nise Yamaguchi, que prestou depoimento nesta semana à CPI da Covid, em convite feito pela comissão. "Uma honra trabalhar com o senhor neste período" afirmou Nise no vídeo, referindo-se a Osmar Terra.
Aos senadores, a médica negou a existência de um gabinete paralelo e disse que prestava apenas "aconselhamento" ao governo. Disse também que nunca esteve sozinha com o presidente Bolsonaro.