O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, excluiu sete órgãos colegiados em portaria publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (10). No texto, foram revogados ainda os atos de nomeação dos integrantes dos comitês e comissões.
Foram extintos por Camargo o Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares; a Comissão Permanente de Tomada de Contas Especial; o Comitê de Governança; o Comitê de Dados Abertos; a Comissão Gestora do Plano de Gestão de Logística Sustentável; a Comissão Especial de Inventário e de Desfazimento de Bens e o Comitê de Segurança da Informação.
Com a mudança, o presidente da Fundação passa a concentrar o poder de decisões que antes eram tomadas de forma conjunta.
Desde que assumiu o governo, o presidente Jair Bolsonaro promoveu uma série de revogações de conselhos e órgãos colegiados criados em gestões anteriores, sobretudo em governos do PT.
Camargo é jornalista e foi escolhido por Bolsonaro para assumir a Fundação Palmares ainda na gestão de Roberto Alvim à frente da Secretaria da Cultura, demitido após imitar um ministro da Alemanha nazista, e teve sua nomeação inicialmente suspensa por decisão judicial.
Entre os motivos para o impedimento estão declarações dadas por ele sobre escravidão e racismo no Brasil.
Ele já afirmou nas redes sociais que o Brasil tem "racismo nutella" e que "o racismo real existe nos EUA". Ele também escreveu que a escravidão foi terrível "mas benéfica para os descendentes" e que "negros do Brasil vivem melhor que os negros da África".
Em seu perfil no Twitter, Camargo se define como "negro de direita, antivitimista". Ele é filho de Oswaldo de Camargo, é especialista em literatura negra e militante do movimento.
Criada em 1988, a Fundação Palmares tem como objetivo promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos da influência negra na formação da sociedade brasileira. O órgão é vinculado à Secretaria Especial da Cultura, comandada pela atriz Regina Duarte.
Camargo vem ironizando declarações da secretária desde que ela afirmou, em entrevista ao Fantástico neste domingo (8), que há uma "facção" que quer ocupar o seu lugar.
"Bom dia a todos, exceto a quem chama apoiadores de Bolsonaro de facção e o negro que não se submete aos seus amigos da esquerda de 'problema que vai resolver'", escreveu Camargo.
A atriz enfrenta críticas da ala ideológica que apoia o governo Bolsonaro. Durante a mesma entrevista, Regina reconheceu divergências com o presidente da Fundação e disse que ele era "um ativista, mais do que gestor público".
"Estou adiando esse problema porque essa é uma situação muito aquecida", disse Regina, sobre a posse de Camargo.
Um dia antes de a secretária assumir, Camargo replicou uma mensagem de Bolsonaro no Twitter em que ele aparece ao lado do presidente. Na sequência, escreveu que estava garantido no posto.
"Informo para que não restem dúvidas. Estou confirmadíssimo na presidência da Fundação Cultural Palmares, com respaldo do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio. Obrigado pelo apoio. TMJ!", escreveu.