Ernesto Araújo confirma mobilização de Bolsonaro para adquirir cloroquina e minimiza ataques à China

Ex-chanceler brasileiro foi chamado de mentiroso ao tentar negar que promoveu desafetos com a nação chinesa

O depoimento do ex-ministro das relações exteriores Ernesto Araújo à CPI da Covid-19 nesta terça-feira (18) foi marcado por revelações sobre o esquema de compra de hidroxicloroquina no início da pandemia. O ex-chanceler confirmou que Jair Bolsonaro mobilizou pessoalmente toda a equipe para adquirir o medicamento. 

A oitiva de Ernesto era considerada fundamental pelos senadores da comissão, que queriam questioná-lo se a política externa ideológica e ataques promovidos a países como a China, afetaram a compra de insumos e vacinas contra a Covid. 

Ernesto negou atritos com a China, mas foi chamado de mentiroso por senadores da comissão e pelo próprio presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar relembrou que Araújo usou a expressão "comunavírus" para a atacar a nação chinesa. 

"Chegar aqui agora e desmerecer o que vossa excelência já praticou e dizer aqui, nesta CPI, para todos os senadores que o senhor nunca se indispôs em relação à China é... Aí vossa excelência está faltando com a verdade", pontuou Aziz.

Compra de medicamento sem eficácia 

O ex-chanceler afirmou que Bolsonaro atuou diretamente na mobilização da equipe do Ministério das Relações Exteriores pela hidroxicloroquina, medicamento que não tem comprovação de eficácia contra a Covid-19. No entanto, ele afirmou que o pedido inicial para a procura veio diretamente do Ministério da Saúde. 

"Naquele momento, março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos para hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina, fomos informados pelo Ministério da Saúde", disse. 

Contradições

As contradições de Ernesto foram foco do discurso da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que fez uma dura fala contra o ex-chanceler, dando sequência a uma troca de farpas que, em março, resultou na demissão do então ministro das Relações Exteriores.

Kátia falou durante 20 minutos, sem ter feito nenhuma pergunta ao depoente. Inicialmente ironizou a fala de Ernesto na CPI, afirmando que ele tem duas "personalidades".

A senadora então explicou que o ex-chanceler na comissão adotava um tom mais contido, negando críticas à China, mas que nas redes sociais e em artigos costumava ser mais virulento.

A senadora reconheceu que houve aumento no volume das exportações para a China no último ano, mas afirmou que ela aconteceu "a despeito" de Ernesto.

Kátia Abreu também afirmou que o comportamento do então chanceler com a China foi nocivo para o país, em particular na aquisição de vacinas. "Que bajulação à China? Eu quero bajular qualquer país que tenha vacina", afirmou.

VEJA COMO FOI O DEPOIMENTO