O deputado Almeida de Jesus, ex-presidente do Partido Liberal no Ceará, é um dos 72 parlamentares denunciados pela CPI das Sanguessugas aos Conselhos de Ética da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Ele é acusado de participar da máfia que operava a compra superfaturada de ambulâncias com recursos de emendas ao orçamento da União. José Airton Cirilo, por não ter mandato, continuará no processo que será retomado logo depois das eleições.
Almeida de Jesus vai decidir se continuará candidato à reeleição. Em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem, ele voltou a negar que tenha recebido propina para apresentar emendas com vistas à compra de ambulâncias e afirmou que cada parlamentar é obrigado a destinar 30% do valor de suas emendas para a saúde. A CPI pede a cassação de 69 deputados e 3 senadores.
“Estou tranqüilo. Agora, encaminhamento para a cassação de mandato deixa qualquer deputado preocupado. Vamos nos defender no Conselho de Ética e provar o que realmente aconteceu”, declarou Almeida de Jesus, no início da tarde de ontem. O parlamentar acredita que o fato de integrar a bancada evangélica na Câmara foi preponderante para sua inclusão no rol dos denunciados pela CPI das Sanguessugas. Isto porque a bancada era coordenada pelo ex-deputado Bispo Rodrigues, que renunciou ao mandato, no ano passado, após ser incluído entre os beneficiados pelo “mensalão” e foi preso, este ano, por integrar a máfia das sanguessugas.
Almeida confirmou ter apresentado emendas destinando recursos para a compra de ambulâncias, alegando que R$ 900 mil, dos R$ 3 milhões os quais os parlamentares têm acesso através de emendas, devem obrigatoriamente ser destinados à saúde. Ele acredita que seu nome deve ter sido citado porque parte dos recursos das emendas foi para comprar ambulâncias através da empresa Planam.
OUTROS - O parlamentar acha que, no andar das investigações, outros nomes de parlamentares cearenses poderão ser citados. “Todos os 22 parlamentares colocaram emendas para a saúde. Por que só o meu nome apareceu na lista? Fui citado pelos Vedoin. Apresentei emendas em 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006 e quatro dos municípios fizeram compras com a Planan. Quando outras empresas começarem a ser investigadas, outros nomes podem aparecer”, declarou Almeida de Jesus. O deputado assegurou que os prefeitos dos municípios beneficiados com as suas emendas estão dispostos a depor em seu favor.
CANDIDATO - O parlamentar vai decidir, até o dia 20 de agosto, se continua ou não na corrida por um novo mandato. “Nada me impede de ser candidato, mas não há posição fechada. Vou reunir meus amigos e aliados, ver pró e os contra, ouvir a executiva nacional e a executiva estadual e ver se é plausível continuar o nosso trabalho ”, afirmou. Almeida crê que a formação de um “chapão” - em referência à coligação PMDB, PT, PSB e PP - com perspectiva de eleger entre 10 e 12 deputados federais está mexendo com os bastidores da disputa no Ceará. “Os outros estão querendo que eu saia da disputa, há um trabalho forte contra a nossa reeleição”, assegurou.
A assessoria do senador Amir Lando (PMDB- RO), relator da CPI das Sanguessugas, informou que as denúncias contra o ex-presidente do PT no Ceará, José Airton Cirilo, serão investigadas na segunda fase dos trabalhos, que envolvem as ramificações da máfia no Executivo. Cirilo é acusado pelos donos da Planam de receber propina para intermediar a liberação de recursos do Ministério da Saúde, bem como a compra de ambulâncias por parte do Governo do Piauí, do petista Wellington Dias. Cirilo nega todas as acusações. O vice-presidente da CPI das Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), está recomendando os eleitores a não votar em deputados envolvidos tanto nas denúncias que envolvem a máfia das sanguessugas quanto no escândalo do mensalão. “Eleitor, o primeiro Conselho de Ética é você quem faz. Não vote em sanguessuga, não vote em mensaleiro, para que não tenhamos que reeditar o trabalho da CPI”, declarou o parlamentar à imprensa.