A divulgação dos áudios de conversas entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, azedou, nesta terça-feira (19), o clima político em Brasília e pode comprometer o andamento das reformas prioritárias do Palácio do Planalto - como é o caso da Previdência.
Os áudios, datados de 12 de fevereiro, foram publicados pelo site da revista "Veja" e desmentem a versão do presidente, para quem eles não haviam conversado naquela data. Bolsonaro disse em entrevista a um canal de TV que era mentira que eles tivessem mantido um diálogo antes da alta hospitalar.
Até dentro do PSL, partido de Bolsonaro, o caso criou tensão publicamente no Congresso. "Esses áudios acabam apagando fogo com gasolina", ilustrou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Para a aliada, a divulgação dos áudios é "ruim" e "uma exposição desnecessária para ambos".
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), tentou minimizar os efeitos negativos do episódio. Ele garantiu que a demissão de Bebianno não afeta as votações na Casa. Segundo Maia, a aprovação das reformas, como a da Previdência, é mais importante do que qualquer crise interna no Governo.
"Acho que o assunto está resolvido. Foi uma perda para a relação da Câmara com o Executivo, mas ele (Bolsonaro) já estava fazendo esse diálogo (da Previdência) junto com Onyx (Lorenzoni). A aprovação das reformas é maior e mais importante do que qualquer um de nós", disse Maia.
Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), reconheceu que, com o vazamento dos áudios, "nenhuma confusão é boa para o País". "O Senado tem que deliberar sobre sua pauta. Quem tem que responder é quem vazou. Eu e os senadores queremos dar a resposta votando propostas".
Outra surpresa negativa para o presidente veio de uma votação importante na Câmara. O presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), votou contra a orientação do Planalto na aprovação da urgência do projeto que derruba o decreto de alteração da Lei de Acesso à Informação. A derrota gera ainda mais tensão do Governo nas pautas que exigem maioria qualificada de votos. Em seguida, a assessoria de Bivar informou que o parlamentar se confundiu ao digitar seu voto.
Silêncio
Em meio à piora do ambiente político, Bolsonaro (PSL) evitou fazer comentários sobre os vazamentos das conversas. No Twitter, como costuma se comunicar, buscou mudar o foco da publicação das conversas e tratou da pauta contra a corrupção. "Atendendo aos anseios da nação, assinamos hoje o pacote anticrime, que aperfeiçoa o combate à corrupção, aos crimes organizado e violento. Enviaremos ao Congresso", escreveu.
A oposição se esforça para prolongar a crise. Nesta terça (19), uma comissão do Senado aprovou convite a Bebianno para prestar esclarecimentos sobre denúncias de candidaturas "laranjas" do PSL.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento, Bebianno precisa esclarecer os motivos da exoneração e explicar como se deu seu trabalho na campanha que elegeu Bolsonaro.
Na noite desta terça, em entrevista a uma rádio, Bebianno negou ser "homem-bomba" e disse que não vai atacar Bolsonaro. "Eu tenho caráter".
'Envenenado'
Em uma das conversas vazadas, Bebianno diz a Bolsonaro que ele estava "envenenado", numa referência às críticas públicas de seu filho Carlos Bolsonaro.
O desgaste iniciado pelas suspeitas de candidaturas laranjas no PSL virou confronto aberto no Governo depois que Carlos acusou Bebianno de mentir ao dizer que havia conversado com o presidente no dia 12. A acusação foi validada por Bolsonaro, e agora desmentida pelos áudios.