Editorial: Para viver a metrópole

Foi firmado, nestes primeiros dias do ano, o compromisso da Prefeitura Municipal de Fortaleza de destinar recursos à requalificação estrutural de lagoas e parques urbanos da cidade. O aporte será de R$ 40 milhões, a serem investidos em áreas como a Lagoa da Viúva, no Bom Jardim; projeto Beira Rio, na Barra do Ceará; Parque Passaré, espaço integrado ao Zoológico Municipal Sargento Prata; a Cidade da Criança e a Praça Sagrado Coração de Jesus, ambas no Centro da Capital.

Intervir nestes espaços era necessário. Exemplar para ilustrar esta demanda é a Cidade da Criança. O antigo Parque da Liberdade não faz jus, por hora, a nenhuma destas alcunhas. O local poderia ser uma ilha de tranquilidade no agitado Centro de Fortaleza, com seu lago, passeio e casario. Ademais, conta com um terminal de ônibus, que facilita seu acesso. Contudo, o espaço está estruturalmente degradado e é considerado hostil e inseguro por quem passa ali, tendo sido registrados, em suas dependências, assaltos, roubos e até crimes de violência sexual.

Requalificar o ambiente, recuperar antigos significados dele para a cidade e criar oportunidades para a sua ocupação por parte da população não são tarefas simples, exigindo não apenas recursos financeiros, mas feitos de gestão. Contudo, não é preciso ir longe para se crer que uma transformação é possível e desejável. Fortaleza tem o exemplo bem-sucedido da requalificação da Praça dos Mártires/Passeio Público, não distante dali, também na região central da cidade.

Cenário histórico da capital cearense, a praça enfrentou um período de marginalização, quando converteu-se em ponto de prostituição - e sinônimo dela, no imaginário popular de Fortaleza. À época, o local era evitado por parte da população, temerosa por sua segurança ou pela associação com o estigma do local.

A requalificação se deu em 2007, ao custo de R$ 800 mil, e possibilitou uma transformação no uso da praça, hoje, procurada para quem deseja desfrutar de um ambiente tranquilo, incluindo frequentadores e trabalhadores dos comércios do bairro. A mudança deu início a um novo momento do Passeio Público, que, apesar das dificuldades ocasionais, se mantém.

Fortaleza também viu se fortalecer, na última década, a relação da população com seus parques públicos. O Cocó - de responsabilidade do Estado - se incorporou no cotidiano de uma cidade que parecia avessa ao verde. Em seus vários pontos, o que se vê é o aumento do número de frequentadores, grupo heterogêneo em idade e classe social. Desperta-se para o benefício deste tipo de espaço, para a saúde dos frequentadores e para a própria sanidade da sociedade. Intensificam-se o ir e vir, a ocupação dos logradouros públicos, a experiência da cidade para além do espaço privado e de consumo.

Investimentos como o anunciado precisam ser regulares, para garantir a continuidade desta experiência de cidade. Para tal, é mister além do reforço estrutural. Estado e Prefeitura têm que se fazer presentes, mesmo após o fim das obras, garantindo serviços fundamentais nestes espaços. É o caso da segurança. O cidadão seguro sente-se convidado a viver melhor a metrópole.