O Brasil anda tão à flor da pele que qualquer medalha olímpica já nos faz chorar um Orós, nunca fomos tão carentes, nunca buscamos tanto a delicadeza perdida de um país, chorai por nobis, miserere nobis...
Nossa sorte tem sido as Rebecas, Rayssas e Anas Marcelas, na ginástica artística, no skate, na maratona aquática; pra ficar apenas em três das tantas meninas capazes de nos mostrar que isso aqui não é só a terra da brutalidade onde o bolsonarismo implantou, desde a campanha eleitoral, a maior usina de moagem de fake news do universo — finalmente sob forte marcação das turmas do TSE e do STF.
Na República dos generais, reverendos, charlatões, coronéis e lobisomens atravessadores de vacinas (entre outros sanguessugas na mira da CPI da Pandemia), nos apegamos, como nunca dantes, não somente ao ouro, à prata e ao bronze, mas a toda e qualquer história que esfregue na nossa cara a brasilidade esquecida.
O Brasil anda tão à flor da pele, Zeca Baleiro, que a sua conterrânea, a Fadinha do Skate, nos leva a chorar não somente nas manobras e no pódio lá do outro lado do mundo. Marejamos as retinas das vidas secas, meu velho, também quando a Rayssa voltou a Imperatriz: dona Lilian, sua mãe, preparou o prato nobre da casa, a panelada — bucho, tripa e mocotó, para minha nada olímpica inveja. Chorei em dobro, até sentindo o cheiro, ao ver a imagem no “Fantástico”. Sustança afetiva de primeira, o segredo do sucesso.
E não se trata de folclore ou exotismo, o papo aqui é sobre delicadezas largadas na poeira. Andava até meio destreinado com o assunto, confesso. O “telecatch” político nos faz metidos a durões em um ringue sem futuro.
O choro olímpico, ufa, veio em boa hora para devolver a sensibilidade que andava meia-boca. Obrigado Rebecas, Rayssas e Anas Marcelas. Até a próxima.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.