O maranhense Flávio Dino, ministro do STF e ex-comandante do Ministério da Justiça no governo Lula, acordou com uma mensagem alvissareira:
“Domingo de Ramos, domingo de celebração da Fé e da Justiça. Livro dos Salmos: “Ainda que floresçam os ímpios como a relva, e floresçam os que praticam a maldade, eles estão à perda eterna destinados.” “Como a palmeira, florescerão os justos, que se elevarão como o cedro do Líbano.”
Era 07h07 da manhã e o país havia tomado conhecimento, com o clássico plantão da Globo e tudo, das prisões de três autoridades suspeitas de envolvimento na morte de Marielle Franco: Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio), Chiquinho Brazão (deputado federal) e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil.
Ao assumir o cargo na Justiça, no início de 2023, Flávio Dino prometeu acelerar as investigações e, finalmente, chegar aos mandantes desse caso que se arrastava havia seis anos. Muita gente duvidou. Não seria fácil. Até então só aparecera quem atrapalhasse as apurações.
Um pouco depois da mensagem do ministro do STF, o deputado federal Marcelo Freixo (PT-RJ), presidente da Embratur, postou um texto curto, mas que decifra a complexidade dos podres poderes cariocas:
“Em 2008, quando fiz a CPI das Milícias, nós escrevemos no relatório que crime, polícia e política não se separam no Rio. 16 anos depois, com o caso da Marielle resolvido, reafirmo a mesma frase. Um membro do Tribunal de Contas, um vereador (agora deputado) e um chefe da polícia presos envolvidos no assassinato da Marielle”.
Basta rebobinar as fitas e as imagens da história recente e observar, por exemplo, Rivaldo Barbosa, o ex-chefe de Polícia preso neste domingo, abraçando os pais de Marielle, confortando a família e prometendo resolver o episódio. Quem imaginaria?
“O Brasil não é para principiantes”. A frase original do gênio carioca Tom Jobim foi adaptada, há muito tempo, para “o Rio não é para amadores”. Tampouco os “profissionais” dão conta dos labirintos de uma metrópole sequestrada por uma máfia que está nas delegacias, nos tribunais e nos palácios.
Por causa de tudo isso, os acontecimentos deste Domingo de Ramos podem passar para a história como uma virada na vida política fluminense e brasileira. Que floresça a Justiça, caríssimo Flávio Dino. Que o sol volte a brilhar mais uma vez, como cantou Nelson Cavaquinho em uma das suas profecias bíblicas do cotidiano carioca.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.