Quando escuto ou leio a manchete “o mercado está nervoso”, sempre repetida a cada aceno político para a proteção social dos desvalidos, imagino um mercado público em momento de rebuliço.
O mais agitado que vi, convivi e fiz parte foi o central de Juazeiro do Norte. Ali sim a economia tem cara e coroa, corpo e alma, não é apenas essa notícia em forma de chantagem dos especuladores da Faria Lima.
Ali sim, antes e depois do incêndio de 1974, o nervosismo é o da vida real, a cada desejo, a cada necessidade, o que se pode levar na hora e o que fica para quando Deus der bom tempo.
Entre um freguês ou outro, no nosso box familiar de secos & molhados, passava o Tetê-Segura-o-Bode, para animar a meninada — de feirante e doido, ali todo mundo tinha um pouco.
Em tempos de secas brabas, como a de 77, o comércio sentia a agonia na cabeça de cada comerciante. Até as romeiradas do Padim Ciço eram fracas de apurado, os devotos viravam pedintes e mal podiam pagar suas promessas. O pior era o medo dos saques, por causa da fome que cercava os arredores — e ainda existe quem sinta saudade da Ditadura dos militares.
Na fartura, o nervosismo era de puro abestalhamento e felicidade. As vendedoras de pequi davam o grito logo cedo. Os capotes e as guinés chegavam ainda vivos: “Tô fraco, tô fraco, tô fraco”, soltavam o último apelo.
No rádio, seu Elói Telles, em prosa com Patativa, na Araripe do Crato. Nem tinha batido oito horas na capela do Socorro, ave, e o cheiro de caldo de corredor de boi (com tutano, muito tutano) anunciava a sustança das cozinheiras da área.
Café, almoço e janta como um direito de toda essa gente. Não é pedir muito, mas bastou o Lula falar em teto de gastos para que a Faria Lima desse chilique. Essa turma precisa de um estágio no mercado central ou no Pirajá, ambos em Juazeiro do Norte. Quem sabe aprenda um pouco de Brasil real e calibre os nervos.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.