O Nordeste mostrou, mais uma vez, que é a região do povo mais ajuizado do país – ou menos ignorante, como queiram. Apenas 21% dos nordestinos acreditam que o Brasil corre risco de virar uma terra comunista no governo Lula. Para os brasileiros em geral, essa possibilidade seria de 44%.
Os sudestinos são as criaturas que mais temem o fantasma do comunismo, com um índice de 36%. No Sul, a taxa é de 35%. No Norte/Centro-Oeste, um total de 32%. A pesquisa do Ipec foi divulgada nesse domingo (19).
O que faz da gente nordestina mais resistente a esse tipo de ilusão ou mentira? Há quem aponte o melhor desempenho dos alunos nas recentes olimpíadas de História ou na redação do Enem, por exemplo. Devemos considerar esses dados. Não tenho, porém, em uma simples crônica, uma resposta definitiva – não há um estudo sobre o caso.
O medo do regime comunista foi uma das principais pregações da máquina de fake news da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Pelos números do Ipec, vemos que pegou. Mesmo sem a menor ideia do que seja a ideologia, o pânico foi plantado na cabeça de uma legião.
Entre os evangélicos, o perigo é mais alarmante: 57% acham que o comunismo será implantado em breve. Essas pessoas foram bombardeadas por informações falsas, repetidas inclusive pelos pastores, como o possível fechamento das igrejas. Elas seguem abertas e livres, mas o temor continua.
Na disputa das urnas em 2022, o marketing da frente ampla de Lula precisou publicar um vídeo para mostrar que o “fantasma do comunismo” era uma lenda urbana, como a Loira do Banheiro, a Perna Cabeluda ou o Bebê Diabo. Segundo a propaganda de Bolsonaro, os “comunistas”, aliados ao demônio, fechariam os templos e expulsariam os fiéis. Repare no tamanho da lorota.
A criação desse pânico vem de longe, apenas foi reforçado recentemente pelos candidatos da extrema-direita. Em 1989, o comitê de Fernando Collor já espalhava no Cariri que Lula pintaria de vermelho a estátua do Padre Cícero. O boato vingou por um tempo. Seria a chegada do comunismo na terra santa do Juazeiro. Vários governos petistas depois, inclusive em três gestões seguidas no Ceará, e meu Padim segue intocável na colina do Horto. Jesus Cristo seja louvado, amém. E até a próxima.