Só existe o Brasil no Cariri. Reformulo a frase: Só há Brasil no Cariri. Melhor dizendo, o que resta do Brasil está no Cariri. O Brasil, no sentido de ser o que deveria, é o Cariri. E não é questão de Brasil raso ou profundo, é de ser uma região que consegue manter acesa, sem forçar a barra, a ideia de brasilidade nordestina.
Repare no que disse o cantor e compositor baiano Gilberto Gil ao receber, quarta-feira (10), o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Ao pisar naquela terra, sentiu pulsar o “coração de menino brasileiro”.
Só o Cariri é capaz de reacender esse tipo de batuque cardíaco tropicalista.
Somente os ares da Chapada do Araripe, esse patrimônio e Refazenda da humanidade, acordam o cabinha adormecido dentro dos adultos de todas as procedências. Os ventos do Zabelê acordam a criatura com um cascudo moral e estético para lembrá-lo: você está no terreiro dos Kariris.
É o solo sagrado, para pegar um bigú místico no discurso de Fabiano Piúba, secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura. E nesse lugar dos lugares, Gilberto Gil recebeu do mestre Aldenir a coroa do reisado, religando o Congo ao Crato, como em um novo movimento das placas tectônicas dos continentes.
Foi nos arredores da Chapada do Araripe que surgiram as primeiras flores da terra. Agora já escuto é Alemberg Quindins, o épico narrador das grandezas do Brasil caririense, meu contemporâneo de uma infância ludopédica em Nova Olinda.
Entronizado em uma cadeira Espedito Seleiro, Gilberto Gil, em sagrada noite no Centro Cultural do Cariri, viu de volta o menino brasileiro e a imortalidade do acadêmico. Só o Cariri une as duas pontas da vida, rapaz, em um nó-cego na embira do tempo.
Não é que inexista o Brasil em outros sertões, litorais e metrópoles. Calma, sujeito oculto. Só quis dizer que é no Cariri o centro do universo. O resto é só um exagerozinho honesto lá da minha gente.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.