O que o cordelista, cartunista e editor cearense Klévisson Viana tem feito pela divulgação e teimosia da cultura popular nordestina é um estrondo de bacamarte nas oiças dos desavisados. Prefiro teimosia à palavra resistência — mesmo que esta última esteja tão em moda na política dessa quadra bagaceira da história.
Conterrâneo de Antônio Conselheiro e Fausto Nilo, este filho gutenberguiano de Quixeramobim teima, por décadas, em manter acesa a brasa do cordel, na qualidade de poeta e de folhetinista-editor. De 2022 para cá, pasme, trouxe de volta um clássico das publicações do interior brasileiro, o almanaque — miscelânea de contos, fábulas, curiosidades, humor, poesia e informações com a cara (e a marca) do Nordeste.
A edição de passagem de 2024 para 2025 do “Tupynanquim Almanaque” apresenta na capa o “Santo Ariano Suassuna — padroeiro da Cultura”. Tupynanquim, para quem ainda não tomou ciência, é a editora criada por Klévisson e permite todo esse rebuliço gráfico.
Dei a sorte de reencontrar o teimoso editor cearense no XVI Encontro dos Mestres do Mundo, no Centro Cultural do Cariri, realizado no Crato, no início deste dezembro. Saltou com o novíssimo almanaque na mão, para a minha arregalada surpresa.
No que lembrei, em um relâmpago da memória, de “O Juízo do Ano”, antiga publicação do mesmo naipe, obra do poeta e astrólogo Manoel Caboclo. “O Juízo”, como muito leitores abreviavam o nome, durou de 1959 até a morte de Caboclo, em 1996. Pense numa teimosia. Nem Gutenberg (1400 – 1468), o alemão que inventou a prensa de imprimir, foi teimoso assim.
Tive a fortuna e sorte de testemunhar o trabalho de Manoel Caboclo na sua oficina da rua Todos os Santos, em Juazeiro do Norte — eu morava na São Domingos, na esquina da praça das Cacimbas.
No seu “Tupynanquim”, Klévisson canoniza Suassuna e ainda apresenta textos e ilustrações de Bruno Paulino, Mestre Dila, Valdeck de Garanhuns, Marco Haurélio, Rosinha Miguel, Chico Pedrosa, Ana Miranda, Arievaldo Vianna, Carolina X, Alemberg Quindins, J. Borges, entre outros bambas do traço e da escrita.
Lá nos céus d´"O Auto da Compadecida", Ariano aplaude, abençoa o bravo Klévisson, amém.