Notícia ruim sobre a destruição do país é o que não falta. Por isso começo de um lugar onde a civilização brasileira ainda teima, apesar das trevas bolsonaristas. Em Mangabeira, repare no acontecimento, o professor Francisco Ivonildo Dias da Silva juntou a sua turma para fazer a primeira feira literária daquele distrito do município de Lavras, na região do Cariri cearense.
Todo esse épico, nos conta Antonio Laudenir no Diário do Nordeste, marca o aniversário de 30 anos da biblioteca pioneira do pedaço. Com o nome de sala de leitura José Cândido Dias, a casa mágica e babélica conta com cerca de 15 mil livros. São histórias para mil e uma noites que se multiplicam ao infinito na cabeça dos novos e velhos leitores.
O acontecimento do povoado de Lavras da Mangabeira se torna mais homérico ainda quando sabemos que o Brasil perde uma biblioteca pública a cada dois dias. É o que leio aqui, assombrado, no excelente blog de Tony Marlon, no Ecoa. “Poucas notícias resumem tão bem o espírito do nosso tempo: quando não mata o corpo, o Brasil de hoje mata a imaginação”, diz o educador.
Sim, Tony, o mesmo país que abre um clube de tiro e de trabuco a cada 24 horas. Lamentável. De 2015 a 2020, o país fechou pelo menos 764 bibliotecas, segundo dados da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério do Turismo. E olha que já vivemos um período diferente — de 2004 a 2011, o poder público abriu 1.705 novas bibliotecas.
Por isso que precisamos tanto dos professores do naipe de Francisco, lá de Mangabeira. Por isso que é necessário reafirmar, politicamente, o valor da leitura, como fez o escritor caririense Sidney Rocha diante do ex-presidente Lula, no encontro do candidato do PT com os trabalhadores da cultura e das artes, no Recife. “Eles têm tanto medo do livro e da educação que fundam clubes de tiros”, disse o autor de “O destino das metáforas”.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.