Cansei

O "cansei" que dá titulo a esta croniqueta não tem nada a ver com nenhum movimento cívico fajuto contra isso ou aquilo. 

Pode ter mais a ver com os versos do sucesso musical de Sinhô, compositor de “Cansei”, que Mário Reis gravou no começo do século passado. 

“Pois lá ouvi de Deus/A Sua voz dizer/Que eu não vim ao mundo/ Somente com o fito de eterno sofrer”. 

Não falta vento nem sol, o número de amigos e parentes é até razoável, mas as coisas estão esquisitas e cansativas. 

As pessoas estão muito divorciadas, mesmo com o arrefecimento desta pandemia, e saíram de suas tocas desconfiadas de um novo ataque do vírus mutante. 

Conhecidos nossos, de quem não anotamos endereço e telefone, nunca mais deram notícias e isso chateia e preocupa. 

Na ditadura espanhola do Generalíssimo Franco, os rebeldes, para escapar de execuções sumárias, escavaram buracos até no chão de suas casas para se esconder. 

Denominados de “tatus”, quando voltaram a ver o sol, após 30 anos, ficaram desconfiados devido a tanto tempo de reclusão. 

Não levemos a comparação com a pandemia, rigorosamente, ao pé da letra. 

Lembro o fato pela lentidão do retorno à vida normal, embora eu continue sem entender que normalidade é essa que já me cansou. 

Certamente que o metabolismo lento nos cansa, mas elencar as razões dessa falta de fôlego exigiria um espaço semelhante ao dedicado às antigas listas telefônicas, com desculpa pelo exagero. 

São “reimas” no nosso itinerário “que nem prestam”, como diz o populacho. 

Cansei das mesmices, das mentiras, do cinismo, das falsas promessas, do descalabro dos poderosos, com essa coisa cretina da “vontade política”, dos lugares comuns para enganar os incautos. 

Não se pode esperar soluções, como se elas estivessem debaixo da terra. A vida é o aqui e agora, sem direito à prorrogação e cobrança de penalidades. 

Na minha área, cansei de ver gente que nunca colocou um calção para fazer exercício físico, tirar proveito do futebol para atingir objetivos políticos e financeiros. 

Agradeço aos generosos leitores a anuência para focalizar, neste sábado, um assunto menos palatável que os habituais. 

A culpa é do meu cansaço. 

Eu sou um “Hulk” que volta ao normal, ainda bem. 

Fiquem tranquilos.