Procura-se uma terceira via contra Lula e Bolsonaro

Boa parte da classe política no País ainda sonha em fugir da polarização no ano que vem. Os nomes, no entanto, estão longe de emplacar

Desde a candidatura de Marina Silva, em 2010, fala-se, no Brasil, em "terceira via" na eleição presidencial. Em diversos momentos, inclusive, a pauta política impõe a necessidade de uma candidatura competitiva que possa ser uma alternativa ao cenário polarizado.

A exigência costumeira é que seja uma candidatura com perfil "moderado", e que traga soluções ao País.

A ex-ministra do Meio Ambiente chegou perto dos 20% dos votos válidos na primeira tentativa dquele ano, mas não empolgou o eleitorado. Quatro anos mais tarde, repetiu o índice e, novamente, ficou de fora do segundo turno. Em 2018, terminou com 1% de apoio popular.

Em 2010, o fim do mandato de Lula indicava, para os defensores de uma nova alternativa de governo, oportunidades para novas lideranças. 

Com as dificuldades encontradas por Marina para ocupar esse espaço, surgiu Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco.

Ele ensaiou a movimentação discursiva e de captação partidária, em 2014, mas a morte precoce por conta de um acidente aéreo tirou a oportunidade do pré-candidato testar o nome nacionalmente.

Ciro Gomes já havia tentado esse espaço nacional em 1998, 2002 e, mais uma vez, 2018, mas sequer chegou ao segundo turno em todas as ocasiões. O cearense ainda não conseguiu convencer os partidos de que pode liderar uma frente ampla. 

A SURPRESA

Em uma ascensão meteórica, quem ocupou esse espaço de "terceira via" recentemente foi o então deputado Jair Bolsonaro, que hoje é presidente da República. Foi a primeira vez, desde 1994, que o brasileiro elegeu um presidente que não é filiado ao PT e ao PSDB. 

Na condição de presidente, e pelo discurso que adotou na campanha de 2018, Bolsonaro polariza, naturalmente, com os partidos de esquerda, apesar de receber críticas de demais campos ideológicos, inclusive do centro e de algumas fileiras da direita.

Boa parte da imprensa e do mercado financeiro já procura uma alternativa ao presidente Jair Bolsonaro e ao Lula para 2022. Mas será que o cenário mostra essa possibilidade? Últimas pesquisas de intenção de voto sugerem que ambos devem ser os protagonistas da disputa presidencial. É bom ressaltar que levantamentos estatísticos retratam o momento e os números podem mudar a todo instante.

O ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o apresentador de TV, Luciano Huck, tiveram seus nomes ventilados, mas nenhum dos dois mostrou reação para a missão. Sem apelo popular e partidário, os nomes estão cada vez mais atrofiados na corrida eleitoral. 

O PSDB, ora polarizador com o PT durante 20 anos, agora busca esse espaço na "terceira via". Nomes como Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul; João Doria, governador de São Paulo, e Tasso Jereissati são ventilados internamente. Até agora sobram discursos, e faltam definições.

APOSTAS

Dirigentes costumam ser pragmáticos, e apostarão em uma candidatura competitiva que lhe tragam frutos no pós-eleição. A preço de hoje, as únicas candidaturas que se mostram fortes a ponto de atrair partidos e a atenção popular é a do ex-presidente Lula e a do próprio Jair Bolsonaro. Ou seja, dentro da nova polarização.

Pelo que temos em mãos nos dias de hoje, é difícil acreditar que, em pouco mais de um ano, saia da cartola uma liderança que mude o cenário a ponto de ofuscar Lula ou Bolsonaro.

Sabemos que tudo é possível, já que estamos tratando de política. No entanto, pelos nomes que temos à disposição do debate nacional, uma "terceira via" forte e competitiva flerta mais com fantasia do que com a realidade.