Atravessando longa turbulência, que inclui diversos episódios de tensão, como críticas públicas de políticos e empresários aos serviços prestados e até a possível instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), a Enel Ceará vem investindo em tecnologia para tentar remover a mancha em sua imagem como distribuidora de energia perante os cearenses.
A concessionária, convém destacar, será vendida, como parte da estratégia da controladora italiana de se desfazer de alguns ativos, principalmente no segmento de distribuição. O processo, segundo Márcia Sandra, diretora-presidente da Enel Ceará, deverá ser concluído ainda em 2023.
Enquanto a venda não se concretiza, a companhia modernizou recentemente seu Centro de Controle do Sistema (CCS), localizado na sede, em Fortaleza. O objetivo é melhorar o tempo de atendimento de ocorrências. A estrutura, anteriormente, era descentralizada, com 7 pontos espalhados pelo Estado. Desde janeiro, o monitoramento é todo feito a partir da Capital, o que, segundo a Enel, agiliza a prestação de serviços.
Tecnologia
O Centro de Controle é o coração da empresa. Uma sala repleta de telas e gráficos, cujas informações de todo o Ceará são acompanhadas em tempo real por mais de 100 profissionais, 24 horas por dia.
"Hoje no Ceará, a gente tem a tecnologia mais moderna do mundo em monitoramento", diz Marcelo Puertas, diretor de Operação e Manutenção da companhia.
Outra novidade é um modelo de despacho automático de ocorrências para as equipes de campo. Essa tecnologia permite agilizar o envio e a atribuição de equipes para realização dos reparos na rede.
“Quando o cliente fica sem energia na sua unidade consumidora e liga para a distribuidora, a informação daquela ocorrência é encaminhada automaticamente para um sistema que distribui as incidências para as equipes de campo mais próximas efetuarem os reparos. Hoje, cerca de 61% dos nossos serviços são despachados automaticamente. Os outros 39% são feitos por meio dos nossos operadores”, afirma Thiago Kussano, responsável pelo Centro de Controle.
De janeiro a novembro de 2022, a Enel reportou investimentos de mais de R$ 1 bilhão e, nos últimos três anos, os aportes ultrapassam R$ 3 bilhões.
Outra tecnologia implantada na rede de média tensão é o Self-Healing (ou autorrecomposição), capaz de realizar manobras de recuperação da rede após falha sem intervenção do operador humano.
Problemas
Apesar de todo esse aparato, o serviço está longe do ideal. Em janeiro, por exemplo, o Hotel Gran Marquise, um dos mais conceituados de Fortaleza, ficou 16 horas consecutivas sem energia, conforme noticiou a Coluna de Egídio Serpa. O hotel dispõe de geradores, mas o tempo de desabastecimento foi longo demais que eles suportassem a demanda.
Segundo Puertas, o problema não foi respondido em um prazo adequado, pois no momento daquela ocorrência havia chamados mais urgentes. O sistema funciona com base em ordem de prioridades. A máxima é para clientes que necessitam da energia elétrica para sobreviver, chamados de eletrodependentes. Outro tipo de ocorrência prioritária é quando determinado problema atinge um número massivo de pessoas, um bairro inteiro, por exemplo.
Também é um grande ponto de estresse com os empresários a demora para ligar novos empreendimentos. O assunto foi objeto de reclamação até do prefeito José Sarto, em novembro. À época, o gestor relatou que o Projeto Beira-Rio só não havia sido inaugurado porque a Enel ainda não havia ligado a energia no local.
Puertas reconhece que esse tem sido um gargalo sensível da companhia. Atribui as falhas, entre outros fatores, à dificuldade em obter insumos. Atualmente, apenas 70% das novas conexões são feitas dentro do prazo. A empresa promete elevar essa taxa para 95% em 2023.
Indicadores
Nos indicadores de desempenho medidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a Enel Ceará apresentou melhora entre 2020 e 2021. O DEC, que mostra o intervalo de tempo que cada consumidor, em média, ficou sem energia elétrica, caiu de 16,51 horas/ano para 12,02 horas/ano. Ainda assim, o índice é pior que o apresentado em 2018 (8,94 horas).
Já o FEC, que apresenta o número de interrupções sofridas pelos consumidores, caiu de 6,30 para 5,12. A queda indica maior qualidade no índice.
Os dados de 2022 ainda não foram oficialmente fechados pela Agência.