O avanço do interesse pelos chamados "vencidinhos" — alimentos próximos ao vencimento vendidos com desconto — é mais um sintoma da severa deterioração do poder de compra da população.
Não há nada de errado em vendê-los e nem em comprá-los, afinal, esses produtos são próprios para consumo. O ponto central é que, diante do aumento estratosférico dos preços de alimentos essenciais, os consumidores têm recorrido a diversas alternativas para tentar garantir comida na mesa. E essa missão tem sido cada vez mais dura.
Mostra-se devastador o cenário de pobreza que acomete o País, com o retorno massivo da fome e da insegurança alimentar.
Convém resgatar reportagem do Diário do Nordeste do fim do ano passado, que mostra o tenebroso avanço do mercado da miséria, com o crescimento da venda de ossos de boi e outras partes de baixíssimo valor.
Mudança nos hábitos
A forma como o brasileiro médio se alimenta mudou drasticamente nos últimos anos. E para a pior. Não há como manter os carrinhos cheios com a inflação avassaladora corroendo sem piedade os salários.
A classe média não escapou dessa tormenta. Pesquisas apontam o aumento da venda de itens como salsicha, carne de lata e outras proteínas baratas, em meio aos preços cada vez mais inacessíveis das carnes.
É de causar, no mínimo, estranheza que um tema de tal dimensão não ganhe a atenção merecida de políticas públicas federais. Enquanto pautas bem menos importantes ecoam, a fome vai se alastrando e deixando rastros indeléveis por onde passa.