Garrincha, alegria do povo. Há um filme com esse título. A “geral” do Maracanã, espaço extinto com a reforma do estádio, recebia a gente simples que pagava mais barato. Nesse espaço, mais perto do gramado, não havia cadeiras. O torcedor ali ficava em pé mesmo. Em compensação, via mais próximos os jogadores. Garrincha fazia a festa. Década de 1950. O meu povão, mesmo o dos menores salários, tinha condição de ir aos jogos. Futebol a preços populares. Na recente semifinal da Libertadores, Atlético-MG x Palmeira, os ingressos foram a preços impopulares, salgados. Sal grosso. O mais barato, R$ 420,00. O mais caro, R$ 920,00. O salário mínimo no Brasil é R$ 1.100,00. O meu povão brasileiro está eliminado dos estádios. Na década de 1950, era o meu povão brasileiro que comparecia aos estádios. Hoje, os ingressos populares passaram a ser peças de museu. O jeito agora é optar pela telinha. A Covid esvaziou os estádios. Mas, pelo visto, os caríssimos preços dos ingressos, a longo prazo, poderão também esvaziar as praças esportivas. A realidade do Brasil não permite lazer como antigamente. Lazer virou produto de luxo. O meu povão brasileiro ficou na saudade. E bote saudade do Mané.
Quando a situação voltar ao normal, ou seja, for novamente permitida a utilização total da capacidade dos estádios brasileiros, seria interessante a destinação de um percentual de ingressos a preços populares a pessoas de menor poder aquisitivo. Sei que muita gente de poder aquisitivo maior irá tentar burlar o dispositivo. Aqui tudo é complicado.
A observação feita no tópico acima tem por base o que aconteceu no programa emergencial da Covid. Muita gente, que tinha boa condição financeira, foi descoberta fraudando o programa e, de forma indevida, recebendo dinheiro. A corrupção parece mesmo entranhada em toda parte. Por mais honesta e justa que seja a proposta, aparece alguém para furar.
O meu sonho é ver o meu povão brasileiro de volta aos estádios. E de uma forma justa. Não mais na “geral”, que era o local mais barato, mas sem conforto. Um local realmente bem próximo ao gramado, mas com todos sentados, pagando preço justo, proporcional ao seu poder aquisitivo. É inaceitável a exclusão dessa gente pela exorbitante exploração.
Nas décadas de 1950 e 1960, existia no PV a “Hora do Pobre”. Quando faltavam 15 minutos para acabar o jogo, os portões do eram abertos. Aí os torcedores, que não tinham condições de pagar ingresso, entravam de graça, assistindo aos 15 minutos finais. E muitas vezes viam os momentos mais importantes porque decisivos do jogo. “Hora do Pobre” hoje em dia, nem pensar...