Os técnicos tiravam leite de pedra

Confira a coluna desta terça-feira (8)

A Seleção Brasileira é a quinta colocada nos jogos eliminatórios para a Copa do Mundo de 2026. Está com dez pontos. São oito pontos a menos que a Argentina, campeã do mundo, líder absoluta com 18 pontos.

O Brasil perdeu muito tempo, esperando pelo treinador italiano, Carlo Ancelotti, que deu uma esnobada. Cozinhou. Cozinhou. Não veio. Os bobinhos da CBF não perceberam a falta de respeito.

Não posso desconhecer o valor do Ancelotti. Mas queria ver se ele operaria os milagres que, nas décadas de 1960 e 1970, o técnico Freitinhas operou no Quixadá. Sim, o Quixinha, que tinha as mesmas cores da Seleção Brasileira.

Ora, no Real Madrid, Ancelotti tem à sua disposição os melhores jogadores do planeta. Seu time atua em gramados que parecem tapetes estendidos para os reis da Espanha. Assim é bom demais.

O técnico Freitinhas tinha contra si as imperfeições do gramado da época. Os uniformes e chuteiras não tinham a leveza de hoje. Mas Freitinhas tirava leite de pedra. Eu o indicaria para a Seleção Brasileira. Garanto que não haveria a pasmaceira de hoje

Explicação

Não é ironia. Os técnicos que trabalhavam no interior cearense, nas décadas passadas, comiam o pão que o diabo amassou. Mas davam seu recado. Hoje mesmo, os técnicos Washington Luiz, Raimundo Wagner e Filinto Holanda, dentre outros, operam verdadeiros milagres.

Exemplo

O repórter Amadeu Filho conta detalhes da vida do técnico José de Freitas Neto, o Freitinhas. Nasceu em 1934. Morreu em 1988. Era chamado de “Eterno Técnico do Quixadá”, pois passou mais de 20 anos no comando do clube. Uma marca incrível em um futebol que muda de treinador todo dia.

Privilégio

Trabalhar somente com o que há de melhor no mundo é muito bom. Ancelotti manda buscar fulano, beltrano, sicrano, sem querer saber quanto custa. Monta verdadeiras seleções. Material esportivo de primeira, leve como uma pluma. Dinheiro a rodo. Tome euro. É uma teta…

Dificuldades

Com Freitinhas acontecia exatamente o contrário. Tinha de fazer das tripas coração para montar boas equipes. E encarar Fortaleza, Ceará, Ferroviário, os chamados times grandes da capital. Vez por outra, conseguia significativos resultados, principalmente quando o jogo era no Estádio dos Imigrantes.

Bicampeão do mundo

Em 1973, no Quixadá, Freitinhas montou ótima equipe: Giordano, Zé Barros, Jota Alves, Egberto e Bil (Hélio); Santos e Zé Nilo; Airton Silva, Manuelzinho, Isaac e Romero. Enfrentou o Ferroviário que tinha como técnico Vavá, bicampeão mundial pelo Brasil em 1958 e 1962. Freitinhas amarrou o jogo. O Ferrão venceu apertado por 1 a 0.