Todos nós conservamos um pouco ou muito de criança. A criança que fomos. A criança que não deixamos de ser. No íntimo de nossas almas, lá está o mundo infantil de encantos. Ou desencantos. Depende do cenário que nos foi proporcionado. Assim, na idade adulta, batem à porta as saudades. Como diz Ataulfo Alves: “Eu daria tudo que eu tivesse, pra voltar aos dias de criança”. Eu tinha onze anos de idade, quando o Brasil ganhou a primeira Copa do Mundo. A Fortaleza antiga, de 1958. Pacata e bela.
Lembro das comemorações a cada gol da Canarinho na Suécia. Um adolescente, de 17 anos, explodia para o mundo: Pelé. Ainda com jeito de criança, ele deu banho de cuia dentro da área sueca, antes de assinalar um dos golaços de sua participação. Brasil campeão do mundo. Meu mundo era o PV, então acanhado, mas, para mim, um “Pacaembu”. Um ano depois, em 1959, eu, ainda criança, com 12 anos, vi Pelé no PV. Fortaleza 2 x 2 Santos, dois gols dele. O tempo passou. Hoje Pelé está com 80 anos de idade. Eu estou com 74. De lá até hoje, 63 anos passaram. Mais de seis décadas. “Eu daria tudo que eu tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança”.
Portões abertos
Em 1957, não havia “escolinha de futebol” no modelo oficial de hoje. Eu tinha 10 anos. Nas manhãs de sábado e domingo, o Ceará abria as portas de sua sede, em Porangabuçu, para receber as crianças dos bairros próximos. Eu e meus vizinhos fomos muitas vezes jogar bola lá. Isso foi mantido até os primeiros anos da década de 1960.
Ídolos
Foi nesse tempo que conheci de perto os jogadores Ceará, campeão cearense de 1957: Ivan Roriz, Pelado, Alexandre, Dico, Damasceno, Carneiro, Honorato, Guilherme, Neném, Bira, Renê. No ano seguinte, o Ceará foi bicampeão com Ivan, William e Alexandre; Cláudio, Claudinho e Carneiro; Neném, Bira, Zezinho Ibiapina, Ananias e Guilherme. Eu tinha 11 anos em 1958.
Lembranças
Dos meus tempos de criança, atento ao futebol, lembro também de algumas formações do Fortaleza e do Ferroviário entre 1957 e 1958. No Fortaleza, Aloísio II (também chamado de Aloísio Verdureiro), Zé Mário (na época, meu vizinho) Gera, Charuto, Sapenha, Aloísio III, Moésio, Nagibe, Ferreira, Zé Raimundo, Lucas.
Desfile
Do Ferroviário minhas lembranças são fortes. Em 1957, o time, quando ia ao PV, passava defronte à minha casa na Rua Padre Francisco Pinto. Assim, como num desfile, eu via passar Juju, Nozinho, Manoelzinho, Eudócio, Macaúba, Macaco, Zé de Melo, Pacoti, Aldo, Fernando. O técnico era Durval Cunha. O filho dele jogava bola comigo na Igreja dos Remédios. Meus tempos de criança.