O árbitro cearense que não acataria o VAR

Luís Vieira Vilanova Vilanova sofria críticas porque nem sempre obedecia às regras do jogo

Domingo passado, tive a felicidade de reencontrar o ex-jogador de futebol e ex-árbitro Luís Vieira Vilanova. Ele foi lateral-esquerdo do América, campeão cearense de 1966. Um timaço formado pelos saudosos dirigentes José Lino da Silveira Filho e Lívio Amaro Correia Lima. Depois, Vilanova foi contratado pelo Santa Cruz, sagrando-se bicampeão pernambucano em 1969/1970.

Após encerrar a carreira, Vilanova fez o curso de arbitragem na Escola do Professor Alzir Brilhante. Nessa parte, o Vila também brilhou. Conhecendo a malandragem dos atletas, porquanto tinha sido também jogador durante muitos anos, Vila não se deixava levar pelas encenações. O papo em campo era direto.

Certa feita, o zagueiro Vitor Hugo, do Ceará, não queria ir no jogo seguinte a Juazeiro. Aí começou a provocar faltas em busca do cartão amarelo ou mesmo do vermelho que o tiraria da viagem. O Vila, sabedor das intenções do atleta, foi direto ao assunto. Avisou logo que ele arrumasse as malas, pois não receberia cartões.

Às vezes, Vilanova sofria críticas porque nem sempre obedecia às regras do jogo. Criava ele mesmo decisões que contemporizavam momentos delicados e a partida seguia adiante. Com ele no apito, decisões erradas do VAR não teriam vez.

Amador

Vilanova jogou no time do Banco Cearense Comércio e Indústria. Os funcionários desta entidade financeira mantinham um time amador. Eu joguei na ponta-esquerda. Vilanova era o lateral-esquerdo. Formamos, portanto, a ala esquerda. Vilanova já havia encerrado a sua vida profissional. Para mim foi um privilégio jogar com ele. Uma festa.

O VAR

Eu não tenho nenhuma dúvida: se na época do árbitro Luís Vieira Vilanova existisse o VAR, ele jamais aceitaria certas aberrações que o tira-teima da telinha tem imposto aos crédulos e incrédulos torcedores. Vila decidiria pelo bom senso de suas próprias observações. Aliás, essa era a característica maior do Vila: o bom senso. Melhor que o VAR de hoje.

Estilo

Luís Vieira Vilanova era diferenciado. Tinha estilo próprio. Foi conciliador por natureza, mas duro quando precisava usar de pulso forte para controlar uma partida mais difícil. Na dúvida, decidia a favor de quem ele entendia estar correto. Uma espécie de “in dubio pro reo” à moda Vilanova. E acabava dando certo.

Internacional

O grande momento do árbitro Vilanova aconteceu no Castelão, em 1992, quando apitou o jogo Brasil 3 x 0 Estados Unidos. Mesmo sem falar inglês, parecia um poliglota nas gesticulações. Todos o entendiam pela linguagem de “boleiro” que os atletas conheciam muito bem. No fim, foi cumprimentado por astros como Roberto Carlos, César Sampaio, Raí e Cafu. Grande Vilanova. Inigualável.